Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Articulistas costumam receber reclamações dos serviços de
instituições públicas e privadas. Tais mensagens provam a validade do
pensamento oriental que nos ensina: "A descoberta de um defeito é um
tesouro." Realmente, ao descobrir um defeito chamado febre, você vai ao
médico e tende a curar-se. Inúmeras críticas são ligadas a hotéis e transportes
terrestre e aéreo, este, inclusive com repetidas atitudes ditatoriais e recente
conduta considerada, ao que tudo indica, prática de racismo.
Viagens combinam com trabalho, lazer e/ou prazer, e não com terror.
Um reclamante foi ao exterior e, antes de embarcar, por ser bem
tratado pelos funcionários brasileiros de raios X, sugeriu que eles ensinassem
os estrangeiros a trabalhar com polidez. Na volta, foi um dos indicados para
exame de suas compras e contava com a nossa usual e exclusiva brasilidade.
Havia adquirido só miudezas e poucos aparelhos eletrônicos a fim de presentear
seus familiares. Tendo em vista que o valor total dos mimos excedia o
máximo permitido, reconheceu o erro e se dispôs a pagar a multa.
Apesar de informar ter provas de que vinha de um encontro onde
representou o Brasil e de que era um cidadão de bom conceito, foi vítima
de inúmeras grosserias e tratado como um facínora, num ato destoante
de um órgão federal de alto nível, com eficiência e credibilidade reconhecidas,
e composto por servidores exigentes, honestos, mas não grosseiros.
Em sua seguinte ida a outro país, comprou apenas uma lembrança. Ao
chegar ao mesmo setor do incidente anterior, rejeitou o corredor com "nada
a declarar" e escolheu a opção "algo a declarar". Lá narrou o
insultuoso e injusto acontecido na primeira viagem. Após reflexão, o
funcionário indagou o que ele tinha a declarar e, em seguida, recebeu uma linda
caixa fechada. Ao abri-la, lembrou-se do brilhante Quintino
Cunha que, certa vez, ao fazer anos, ganhou um par de chifres como
presente de um inimigo. Quintino aguardou o aniversário do desafeto e
concedeu-lhe um buquê de flores, acompanhado de um cartão onde se lia:
"Cada um dá o que tem."
(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias
Brito. Presidente da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 4/5/23. Opinião, p.20.
Nenhum comentário:
Postar um comentário