Se fazer de doido, endoida um...
Perguntei
ao autor da frase que dá título ao leriado de hoje - poeta Jair dos Cachorros
Morais - o significado da coisa e a resposta dele, sempre respaldada na
Ciência, nem Cortella daria melhor daqui a 150 anos:
-
Na porta dum doido, só outro doido!!!
-
Isso eu sei, quero fundamentação científica - redargui.
-
Não 'seje' por isso.
-
Poios vá lá, desembuche!
-
Prestenção. Se um doido reina absoluto na sua área de atuação periférica, que
nem um César armado de baladeira até o novelo romano, bote outro doido mais
doido que ele sete vezes e o dito cujo lá se 'dismilingue', se 'disunera', 'abre
dos pau', se lasca todo. Simplesmente endoida mentalmente!
-
Resultado?
-
O doido pede penico, pede pra cagar e sai! Vá por mim, que entendo de doidice
como qualquer normal do juízo em sã consciência!
-
Tu tá é doido, Jair!
"Se todos fossem iguais a
você..."
O
mesmo Jair poeta da querida Vila União me envia história cinematográfica
protagonizada por um amigo de bairro. É um vizinho, que queria tanto bem à
mulher a ponto de não se importar se ela lhe enfeitasse o crânio com as flores
da infidelidade. "Aquilo sim era amor", defende Jair. Que mais
argumenta: "Pra o amigo em tela, valia tão somente que sua consorte fosse
feliz, com ou sem ele na parada. Shakespeare? Um neófito com aquele Romeu e
Julieta sem futuro".
-
O que seu amigo fez ou disse de tão impressionante, pra que eu acredite
definitivamente nessa lorota de perdão e de amor verdadeiro?
Sem
pestanejar, Jair disparou, sufocando dúvidas acerca da resignação do amigo
manso:
-
Confidenciou-me Zezim das Cabras: "Não quero que minha esposa saiba que eu
sei que sou corno, não quero constranger quem eu amo".
Oferendas da fala cearense
O
amigo Assis Antropolino me envia novos itens para a Grande Enciclopédia. Uma
riqueza.
Praga
de urubu não pega em cristão - Inveja e olho gordo não atingem quem tem bom
coração.
Eminha
é a fia da ema véa! - Resposta do cearense invocado quando alguém diz que essa
ou aquela coisa lhe pertence: "É minha!"
Eu
mordo a venta se não for verdade! - Reforço ao que se diz de verdadeiro.
Homem
do pé pequeno, jumento vem logo na mente - Aforismo usual na Columinjuba.
Caná da Galileia era na Vila
E
lá estava o Zé Luzia, a 50 metros da bodega do Barnabé, no meio da rua (Gen.
Piragibe) com as mãos estendidas ao alto e a garrafa de água mineral sobre um
tamborete, a rogar cheio de fé que um prodígio fosse operado na Vila dos
Industriários. Sussurrava:
-
Pedido de colega, Senhor, transforma essa água em vinho! Pode ser cerveja,
conhaque, zinebra... Quero nem saber do santo, quero é o milagre! Na terra como
nos céus!
Foi
atendido. No velório, semana mais tarde, os que compareceram ao ato de piedade
cristã puderam perceber algo estranho nas mãos do Zé. Em vez do M que a pessoa
traz comumente de nascença, nas dele havia a letra X desenhada. E o melhor (ou
pior), conforme observou o também saudoso Miguel Alexandre:
-
Um X minúsculo, entre aspas... Nã!
Fonte: O POVO, de 30/06/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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