sexta-feira, 21 de julho de 2023

Crônica: “Se fazer de doido, endoida um...” ... e outros causos

Se fazer de doido, endoida um...

Perguntei ao autor da frase que dá título ao leriado de hoje - poeta Jair dos Cachorros Morais - o significado da coisa e a resposta dele, sempre respaldada na Ciência, nem Cortella daria melhor daqui a 150 anos:

- Na porta dum doido, só outro doido!!!

- Isso eu sei, quero fundamentação científica - redargui.

- Não 'seje' por isso.

- Poios vá lá, desembuche!

- Prestenção. Se um doido reina absoluto na sua área de atuação periférica, que nem um César armado de baladeira até o novelo romano, bote outro doido mais doido que ele sete vezes e o dito cujo lá se 'dismilingue', se 'disunera', 'abre dos pau', se lasca todo. Simplesmente endoida mentalmente!

- Resultado?

- O doido pede penico, pede pra cagar e sai! Vá por mim, que entendo de doidice como qualquer normal do juízo em sã consciência!

- Tu tá é doido, Jair!

"Se todos fossem iguais a você..."

O mesmo Jair poeta da querida Vila União me envia história cinematográfica protagonizada por um amigo de bairro. É um vizinho, que queria tanto bem à mulher a ponto de não se importar se ela lhe enfeitasse o crânio com as flores da infidelidade. "Aquilo sim era amor", defende Jair. Que mais argumenta: "Pra o amigo em tela, valia tão somente que sua consorte fosse feliz, com ou sem ele na parada. Shakespeare? Um neófito com aquele Romeu e Julieta sem futuro".

- O que seu amigo fez ou disse de tão impressionante, pra que eu acredite definitivamente nessa lorota de perdão e de amor verdadeiro?

Sem pestanejar, Jair disparou, sufocando dúvidas acerca da resignação do amigo manso:

- Confidenciou-me Zezim das Cabras: "Não quero que minha esposa saiba que eu sei que sou corno, não quero constranger quem eu amo".

Oferendas da fala cearense

O amigo Assis Antropolino me envia novos itens para a Grande Enciclopédia. Uma riqueza.

Praga de urubu não pega em cristão - Inveja e olho gordo não atingem quem tem bom coração.

Eminha é a fia da ema véa! - Resposta do cearense invocado quando alguém diz que essa ou aquela coisa lhe pertence: "É minha!"

Eu mordo a venta se não for verdade! - Reforço ao que se diz de verdadeiro.

Homem do pé pequeno, jumento vem logo na mente - Aforismo usual na Columinjuba.

Caná da Galileia era na Vila

E lá estava o Zé Luzia, a 50 metros da bodega do Barnabé, no meio da rua (Gen. Piragibe) com as mãos estendidas ao alto e a garrafa de água mineral sobre um tamborete, a rogar cheio de fé que um prodígio fosse operado na Vila dos Industriários. Sussurrava:

- Pedido de colega, Senhor, transforma essa água em vinho! Pode ser cerveja, conhaque, zinebra... Quero nem saber do santo, quero é o milagre! Na terra como nos céus!

Foi atendido. No velório, semana mais tarde, os que compareceram ao ato de piedade cristã puderam perceber algo estranho nas mãos do Zé. Em vez do M que a pessoa traz comumente de nascença, nas dele havia a letra X desenhada. E o melhor (ou pior), conforme observou o também saudoso Miguel Alexandre:

- Um X minúsculo, entre aspas... Nã!

Fonte: O POVO, de 30/06/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

Nenhum comentário:

Postar um comentário