A perfeita lembrança do
esquecimento
O
amigo Kleber Silveira, do querido Quixadá, relata breve aventura de colega na
consulta em uma clínica da cidade, casa situada em terreno de extenso jardim. A
saga começa na entrada do estabelecimento. A criatura, "escada de tirar
maxixe, regulando 60 polegadas de altura", tenta alcançar a campainha do
portão, colocada a 1m80cm do chão. E haja ela pular para apertar o biloto.
Quede botar o dedo lá? 16 tentativas malogradas.
Quase
desistindo, liga pro marido, quer uma luz sobre o que fazer para adentrar ao
recinto. O cônjuge, gaiato e mais um tanto, aproveitando-se da situação, não
lhe socorre indo ao local do "incidente", mas sugere fazer uma
reclamação por escrito ao "pedreiro que fez a arrumação desproporcional e
desumana e desqualificada"...
-
E solte os cachorros no incompetente que achou de botar um modelo desses de
campainha à moda ferrolho de porta de igreja!
-
É isso mesmo, Deodato! O paciente sempre tem razão!!!
Sentou-se
no pé do portão e empurrou o pau a escrever o libelo. Passados alguns minutos,
o portão se abre, tal qual a caverna de Ali Babá (havia uma câmera, acionada
pelo fuleiro jardineiro, que o fez após muito se abrir da situação vexatória da
mulher miúda). A sorte é que ela costuma chegar sempre adiantada aos
compromissos, senão teria perdido a consulta com o geriatra. Por que ao
atendimento médico?
Bem,
quinze dias antes ela havia sido atendida por um clínico geral, que solicitara
uma bateria de exames, verdadeiro "checkup de tudo em quanto".
Realizadas as solicitações, estava ela, pois, para relatar ao geriatra que
andava "muito desmemoriada". O especialista em doenças típicas da terceira
idade, muito solícito, após longa e fraterna conversa, está prestes a chegar ao
diagnóstico.
-
Me diga uma coisa: seu esquecimento repentino inclui rotinas do dia a dia,
inclusive na cozinha?
-
Isso, doutor! Não conto as vezes que me esqueço do que estava no fogão pra...
Aí
acontece o momento master, digno de lembrança. O geriatra pergunta pelos exames
solicitados. Com convicção, a amiga do Kléber responde, impávida:
-
Me esqueci de trazer, doutor!!!
-
É sobre esquecer de se lembrar de que falamos, colega!!!
Um papagaio por nome Alexa
"Ludruvino"
(Ludovino Siqueira) tratava a assistente virtual Alexa, que a filha tinha em
casa, como um papagaio. Até entender direitinho como fazer para ter os pedidos
atendidos, ralou peleja grande. Achava bacana dar o comando e ela, após breve
bodejado, colocar no ar o Hino do Ferrim; a música "A véa debaixo da
cama", interpretada pelo Geraldo Nunes; a Oração de São Bento; a voz do
Mazzaropi, ícone do cinema nacional entre os anos 50 e 80, e até o canto matinal
duma rolinha caldo de feijão.
-
É melhor que um papagaio que eu tinha, o Sarney! Pense numa mulher decente!
Um
dia, Ludruvino chegou em casa melado e foi "ensinar" Alexa a mandar o
povo sem futuro a ir à baixa da égua. A ferramenta respondeu no ato:
-
Não tenho certeza!
-
Mande o povo amundiçado pra baixa da égua, tô pedindo! - insistiu o sujeito.
-
Não tenho certeza! - retrucou a máquina.
Afobado,
a um passo de pegar no sono...
-
Pois vá à baixa da água você e a torcida do Calouro do Ar todinha!
Pela
primeira vez na história da Amazon, é o que consegui apurar, a Alexa se
enfezou:
-
Vai te lascar tu, véi corno!
Fonte: O POVO, de 11/08/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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