sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Crônica: “A perfeita lembrança do esquecimento” ... e outros causos

A perfeita lembrança do esquecimento

O amigo Kleber Silveira, do querido Quixadá, relata breve aventura de colega na consulta em uma clínica da cidade, casa situada em terreno de extenso jardim. A saga começa na entrada do estabelecimento. A criatura, "escada de tirar maxixe, regulando 60 polegadas de altura", tenta alcançar a campainha do portão, colocada a 1m80cm do chão. E haja ela pular para apertar o biloto. Quede botar o dedo lá? 16 tentativas malogradas.

Quase desistindo, liga pro marido, quer uma luz sobre o que fazer para adentrar ao recinto. O cônjuge, gaiato e mais um tanto, aproveitando-se da situação, não lhe socorre indo ao local do "incidente", mas sugere fazer uma reclamação por escrito ao "pedreiro que fez a arrumação desproporcional e desumana e desqualificada"...

- E solte os cachorros no incompetente que achou de botar um modelo desses de campainha à moda ferrolho de porta de igreja!

- É isso mesmo, Deodato! O paciente sempre tem razão!!!

Sentou-se no pé do portão e empurrou o pau a escrever o libelo. Passados alguns minutos, o portão se abre, tal qual a caverna de Ali Babá (havia uma câmera, acionada pelo fuleiro jardineiro, que o fez após muito se abrir da situação vexatória da mulher miúda). A sorte é que ela costuma chegar sempre adiantada aos compromissos, senão teria perdido a consulta com o geriatra. Por que ao atendimento médico?

Bem, quinze dias antes ela havia sido atendida por um clínico geral, que solicitara uma bateria de exames, verdadeiro "checkup de tudo em quanto". Realizadas as solicitações, estava ela, pois, para relatar ao geriatra que andava "muito desmemoriada". O especialista em doenças típicas da terceira idade, muito solícito, após longa e fraterna conversa, está prestes a chegar ao diagnóstico.

- Me diga uma coisa: seu esquecimento repentino inclui rotinas do dia a dia, inclusive na cozinha?

- Isso, doutor! Não conto as vezes que me esqueço do que estava no fogão pra...

Aí acontece o momento master, digno de lembrança. O geriatra pergunta pelos exames solicitados. Com convicção, a amiga do Kléber responde, impávida:

- Me esqueci de trazer, doutor!!!

- É sobre esquecer de se lembrar de que falamos, colega!!!

Um papagaio por nome Alexa

"Ludruvino" (Ludovino Siqueira) tratava a assistente virtual Alexa, que a filha tinha em casa, como um papagaio. Até entender direitinho como fazer para ter os pedidos atendidos, ralou peleja grande. Achava bacana dar o comando e ela, após breve bodejado, colocar no ar o Hino do Ferrim; a música "A véa debaixo da cama", interpretada pelo Geraldo Nunes; a Oração de São Bento; a voz do Mazzaropi, ícone do cinema nacional entre os anos 50 e 80, e até o canto matinal duma rolinha caldo de feijão.

- É melhor que um papagaio que eu tinha, o Sarney! Pense numa mulher decente!

Um dia, Ludruvino chegou em casa melado e foi "ensinar" Alexa a mandar o povo sem futuro a ir à baixa da égua. A ferramenta respondeu no ato:

- Não tenho certeza!

- Mande o povo amundiçado pra baixa da égua, tô pedindo! - insistiu o sujeito.

- Não tenho certeza! - retrucou a máquina.

Afobado, a um passo de pegar no sono...

- Pois vá à baixa da água você e a torcida do Calouro do Ar todinha!

Pela primeira vez na história da Amazon, é o que consegui apurar, a Alexa se enfezou:

- Vai te lascar tu, véi corno!

Fonte: O POVO, de 11/08/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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