Por José Jackson Coelho Sampaio (*)
Pesquisadores
universitários, profissionais dos serviços de saúde e estudantes de graduação e
pós-graduação estarão de 18 a 21 de outubro, no campus Itaperi da Universidade Estadual do Ceará (Uece), nesta
cidade de Fortaleza, para avançar no debate científico sobre o trabalho, a organização social do trabalho, a saúde
mental e o impacto do trabalho na saúde mental, com as formas que trabalho e
saúde mental tomam neste início de século XXI, em decorrência de mudanças
tecnológicas, desregulamentações do trabalho e pandemia de Covid-19.
O trabalho tem
sido cuidado de forma ambígua no campo da saúde. Observe-se que a anamnese hipocrática foi modificada pela 1ª vez mais de dois milênios depois de concebida e
para incluir a pergunta sobre trabalho, o que gerou o desdobramento dos
conceitos de "acidente de trabalho" e de "insalubridade
ocupacional", embora praticados de modo precário, e que apenas no final do
século XX desdobrou "penosidade", que inclui a saúde mental, conceito
ainda não operativo, mesmo estando na nossa Carta Magna de 1988.
Saúde mental
também é naturalizada. Numa sociedade plenamente monetarizada qualquer trabalho é melhor que o desemprego e há que se ajustar sem
protestos. Numa sociedade com abissais desigualdades e muitas fomes, o tema da
saúde mental é vivido como um luxo e a doença mental é vivida como fraqueza ou
como ruptura de uma norma moral cujo único responsável é o indivíduo.
Trabalho e saúde
mental devem ser encarados em toda a complexidade de cada termo e da relação
entre eles. O II Congresso Internacional e V Congresso
das Américas sobre Fatores Psicossociais, Saúde Mental e Stress no Trabalho enfrentará este debate por meio de seis conferências
presenciais e oito remotas, 14 minicursos presenciais e 21 remotos, 16 mesas
redondas presenciais e seis remotas, e 286 trabalhos livres (oral e poster) remotos.
Grupos de
pesquisa de Brasil, México, Argentina, Guatemala, Espanha e Portugal, membros
da Red de Investigadores sobre Factores Psicosociales en el
Trabajo (Rifapt) e pertencentes a universidades
públicas, estarão
representados. Espera-se construir acordos teóricos e práticos, para que o elo
estabelecido entre trabalho e saúde mental seja equacionado e melhore a
qualidade de vida de todos, os que estão trabalhando, os que se preparam para o
trabalho e aqueles que já trabalharam.
Usando a
subjetividade para modificar a natureza, o ser humano se descobre como se
olhasse para um espelho alterado por processos sociais como os da alienação
decorrente de especializações, colapso do valor e abstração dos produtos.
Doenças e acidentes, desgastes
somatopsíquicos e psicossomáticos, sensação de esgotamento, vazio existencial e
sentimento de desumanização são formas de expressão mais profundas, muito além
do que evocam as expressões inglesas "stress" e "burnout".
Convidamos a
sociedade cearense para prestigiar o debate por meio do acompanhamento do que
será produzido e divulgado, além de comparecer ao Cine Teatro São Luiz, às 19h
de 18/10/23, na ocasião da abertura e da apresentação da Orquestra Sinfônica e do Coral, da Uece.
(*) Professor titular de Saúde Pública e
ex-Reitor da Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 11/10/2023. Opinião. p.21.
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