Coisas que só cearense faz. E
diz! E pensa!
Na
prosa boa com Miguel Macedo, cruzando o Centro da Cidade com ele ao guidão dum
Jipe, atentou o amigo-irmão pra detalhe que é vero demais: tem coisas que só os
“bicho de urêa” das plagas alencarinas são capazes de realizar. Prestenção à
relação dessas exclusividades nossas:
-
Atravessar a rua na diagonal; cearense não cruza uma passagem sinalizada para
pedestres ou delimitada por marcas sobre a pista (faixa de pedestre);
-
Trafegar, de carro, pelo lado esquerdo da pista em ruas, avenidas e até
estradas (rodagens) em baixa velocidade e não à direita, considerada faixa
lenta;
-
Ter verdadeiro abuso de usar sinaleiras (setas) para dobrar à direita, nem à
esquerda;
-
Dirigir com luz alta em rodovias ou mesmo na cidade, como se só existisse ele
no mundo;
-
E, por fim, vaiar o Sol.
A estas, acrescentemos essas!
-
Quando, em magote, um pede para “escorrer o cipó” (urinar), todos sentem uma
insustentável vontade de ir também ao banheiro;
-
Se um lascar a vaia daqui, o outro inexoravelmente vaiará dacolá, no mesmo
compasso da fulerage;
-
A empreendedora investe, na esquina, em loja de açaí e a denomina “Açaí da
Prima!” A concorrente, no meio do quarteirão, corre e abre a dela - “Açaqui da
Cumade”. Uma terceiro gaiato, mesmo em frente, coloca a sua - “Açacolá da
Tia!”;
-
Se José só tem um filho, o menino se chama José Menêiz Jr.; a partir do
segundo, sim, o sobrenome passa a ser Menezes, “no plural” - é Antônio Menezes;
-
No primeiro aninho da criança, canta-se “o Parabém pra você!”; do segundo ano
em diante, aí sim, o povo de casa canta, “no plural”, os parabéns.
-
Comer tripa de galinha caipira, devidamente virada, em guisado no terreiro;
-
Basta um abrir uma bodega no quarto da frente de casa que, dias depois, o
quarteirão é uma bodega só.
Outras potocas da gente aqui de
nós
Seu
João Cruz, 96 anos, cisma de dar uma voltinha no cabaré, achando que é só ter
vontade e desabar no rumo de lá. Segredou à filha do desiderato, mas ela foi
“cabuetar” à mãe Alzira do intento do pai. A senhora, aos 91, dedinho abanando
NÃO!, responde:
-
Vai o quê!!! Num mais tá no querer dele não! A vida é assim: hoje é, amanhã
babau!
A
dita filha ainda tenta negociar com a genitora, "punindo" pelo velho,
dar essa oportunidade de ele movimentar-se, rever amigos da mocidade – “se é
que ainda tem algum vivo, pai...”
-
Tem, filha! O Arimatéa! Interô 94 essa semana! – defende seu João, crente que
terá a anuência da esposa, que dispara da cozinha, referindo-se ao Arimatéa
mencionado.
-
Tenho horror a véi, e ficando!
Aquela do pastor que assaltou a
freira no hospital
Jair
Moraes chama-nos a atenção, em versos, para episódio ocorrido dia desses no
Ceará:
“Dos
pecados da igreja / Esse é o mais original / Pastor furtar uma freira / Em
corredor de hospital...
Detido,
disse que era / Pra conectar com o Alto / Era o bom ladrão de volta / Ungido
num santo assalto...
A
defesa do coitado / É que o cão lhe atentou / Só queria falar com Deus / Mas a
irmãzinha gritou...
'Socorro,
prendam o pastor / Ela carece dum sermão / Meu i-phone é zero bala / Agora foi
que eu paguei / A primeira prestação...'”
Fonte: O POVO, de 6/10/2023. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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