terça-feira, 14 de novembro de 2023

OVO DA SERPENTE E ELEIÇÕES

Meraldo Zisman (*)

Médico-Psicoterapeuta

A expressão “o ovo da serpente” alastrou-se por todo o mundo e serve como parâmetro para tudo que, ao nascer, possa a ser pernicioso ou poder causar futuros prejuízos à coletividade. A chocadeira do ovo da serpente funciona bem quando há: depressão econômica, alta taxa de desemprego, insegurança, instabilidade sócio-político-moral e inflação, conferir em:

https://www.chumbogordo.com.br/20004-o-ovo-da-serpente-por-meraldo-zisman/

Para não ser taxado ‘de direita’ ou ‘de esquerda’, expressões das mais usadas durante e depois das eleições brasileiras e sendo leitor da Lancet, revista médica inglesa, uma das publicações mais sérias da Medicina Ocidental, fiquei surpreso ao ver que esse periódico abriu espaço para acusações contra a sobrevivência do Estado de Israel, esquecendo que o ovo da serpente do nazifascismo continua vivente. E está bastante atual. Pouco custará para eclodir em metamorfoses camufladas das mais variadas e em inesperadas mutações, como a que se expressou agudamente no Holocausto, consequência do mais antigo preconceito erroneamente denominado de antissemitismo, quando deveria ser antijudaísmo.

Bastaria dar um passo atrás da Historiografia Brasileira para encontramos preconceitos envolvendo nossos povos originários (ÍNDIOS) e AFRODESCENDENTES (negros ou pretos), como prova de que a Inquisição permanece absolutamente atual. Evito o termo estrutural para não cair na nova adjetivação dos preconceitos.

Portugal, que com a Espanha forma a Península Ibérica, até hoje permanece com este ranço, tentando reconhecer os que de lá saíram fugidos.

Embora sem a segurança tecnológica das ciências da Estatística ou da Informática, lembro que os descendentes desses denominados cristãos-novos ou marranos (porcos) eram, à época do achamento do Brasil por Cabral, cerca de 20% dos habitantes de Portugal. Muitos deles fugiram para o Brasil e se homiziaram no nosso sertão, uma vez que, longe da costa, era mais fácil protegerem-se dos longos braços da SANTA INQUISIÇÃO, a qual, do ponto de vista subconsciente dos judeus que emigraram para o Brasil, é mais abafada do que o Holocausto do século XX.

Tendo escrito isso, volto à minha área profissional e comento o que publicou a veterana revista médico-cientifica que, baseando-se em um episódio ocorrido na denominada Faixa de Gaza, emitiu opinião sobre a guerra entre Judeus e Palestinos (que, como toda guerra, é um suicídio). E isso não é de hoje. Basta que se leia o artigo da Lancet de 30 de julho de 2014 [DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(14)61125-9 © 2014 Elsevier Ltd.]

No último número dessa publicação, de novembro de 2022, aparecem, em letras miudinhas, os nomes dos autores do artigo sobre geopolítica: Abuzerr S, Hadi M, Zinszer K, et al. O artigo descreve a avaliação quantitativa do risco microbiano para estimar o risco anual de infecção e carga de doença atribuível a Escherichia coli O157: H₇em água potável na Faixa de Gaza: um estudo prospectivo. Lancet 2022; 399 (supl. 1): S₄

Traduzindo: o artigo acusa Israel de estar ‘envenenando’ a água que fornece aos Palestinos.

Isso é o suficiente para que eu me recorde do renascimento arrastado do Ovo da Serpente. Parece-me que a The Lancet deveria ter mais cuidado ao publicar artigos sobre determinados assuntos que não pertencem às ciências médicas, honrando o que escreve em sua propaganda:

The Lancet: Publicado desde setembro de 1843 para participar de uma severa disputa entre a inteligência, que avança, e uma indigna e tímida ignorância que obstrui nosso progresso”.

Será que a tradicional publicação deseja agora ser também uma das aves chocadeiras do funesto Ovo da Serpente?

Perguntar não ofende!

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES) e da Academia Recifense de Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).


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