Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A
expressão “o ovo da serpente” alastrou-se por todo o mundo e serve como
parâmetro para tudo que, ao nascer, possa a ser pernicioso ou poder causar
futuros prejuízos à coletividade. A chocadeira do ovo da serpente funciona bem
quando há: depressão econômica, alta taxa de desemprego, insegurança, instabilidade
sócio-político-moral e inflação, conferir em:
https://www.chumbogordo.com.br/20004-o-ovo-da-serpente-por-meraldo-zisman/
Para não ser taxado ‘de direita’ ou ‘de esquerda’, expressões
das mais usadas durante e depois das eleições brasileiras e sendo leitor da Lancet, revista médica inglesa, uma das
publicações mais sérias da Medicina Ocidental, fiquei surpreso ao ver que esse
periódico abriu espaço para acusações contra a sobrevivência do Estado de
Israel, esquecendo que o ovo da serpente do nazifascismo continua vivente. E
está bastante atual. Pouco custará para eclodir em metamorfoses camufladas das
mais variadas e em inesperadas mutações, como a que se expressou agudamente no
Holocausto, consequência do mais antigo preconceito erroneamente denominado de
antissemitismo, quando deveria ser antijudaísmo.
Bastaria dar um passo atrás da Historiografia Brasileira para
encontramos preconceitos envolvendo nossos povos originários (ÍNDIOS) e
AFRODESCENDENTES (negros ou pretos), como prova de que a Inquisição permanece
absolutamente atual. Evito o termo estrutural para não cair na nova adjetivação
dos preconceitos.
Portugal, que com a Espanha forma a Península Ibérica, até hoje
permanece com este ranço, tentando reconhecer os que de lá saíram fugidos.
Embora sem a segurança tecnológica das ciências da Estatística
ou da Informática, lembro que os descendentes desses denominados cristãos-novos
ou marranos (porcos) eram, à época do achamento do Brasil por Cabral, cerca de
20% dos habitantes de Portugal. Muitos deles fugiram para o Brasil e se
homiziaram no nosso sertão, uma vez que, longe da costa, era mais fácil
protegerem-se dos longos braços da SANTA INQUISIÇÃO, a qual, do ponto de vista
subconsciente dos judeus que emigraram para o Brasil, é mais abafada do que o
Holocausto do século XX.
Tendo escrito isso,
volto à minha área profissional e comento o que publicou a veterana revista
médico-cientifica que, baseando-se em um episódio ocorrido na denominada Faixa
de Gaza, emitiu opinião sobre a guerra entre Judeus e Palestinos (que, como
toda guerra, é um suicídio). E isso não é de hoje. Basta que se leia o artigo
da Lancet de 30 de julho de 2014 [DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(14)61125-9 ©
2014 Elsevier Ltd.]
No último número dessa
publicação, de novembro de 2022, aparecem, em letras miudinhas, os nomes dos
autores do artigo sobre geopolítica: Abuzerr S, Hadi M, Zinszer K, et al. O artigo descreve a avaliação
quantitativa do risco microbiano para estimar o risco anual de infecção e carga
de doença atribuível a Escherichia coli
O157: H₇em água potável na Faixa de Gaza: um estudo prospectivo. Lancet 2022; 399 (supl. 1): S₄
Traduzindo: o artigo
acusa Israel de estar ‘envenenando’ a água que fornece aos Palestinos.
Isso é o suficiente
para que eu me recorde do renascimento arrastado do Ovo da Serpente. Parece-me
que a The Lancet deveria ter mais cuidado ao publicar artigos sobre
determinados assuntos que não pertencem às ciências médicas, honrando o que
escreve em sua propaganda:
The Lancet: Publicado desde
setembro de 1843 para participar de “uma severa disputa entre a
inteligência, que avança, e uma indigna e tímida ignorância que obstrui nosso
progresso”.
Será que a tradicional
publicação deseja agora ser também uma das aves chocadeiras do funesto Ovo da
Serpente?
Perguntar não ofende!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta.
Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE), da Academia
Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES)
e da Academia Recifense de
Letras. Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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