Por Ernesto Schlesinger Arrais (*)
O Brasil é um
país de investidores conservadores. O levantamento "Raio-X do
Investidor", da Anbima, mostra que apenas um em cada três brasileiros
investe e, para 40% deles, "segurança" é a característica mais
valorizada, enquanto "retorno financeiro" foi a escolha de apenas 20%
dos entrevistados.
Hoje, a renda
fixa segue recompensando bem os investidores. Com a Selic em 12,75% ao
ano, títulos públicos (ativos mais "seguros" do mercado") são um
verdadeiro filé mignon até para o mais arrojado dos investidores. A questão é
que, daqui para frente, esse filé cada vez mais terá cara (e gosto) de carne de
segunda.
Com a Selic em
12,75% ao ano e inflação de 3,16% no último ano, hoje os investidores estão
obtendo mais de 10% ao ano de juros acima da inflação, ou seja, não
têm muito com que se preocupar. Porém, segundo levantamento do BC, em 2024 o
Brasil já terá se despedido das taxas de juros de dois dígitos e, para 2026, a
expectativa é de que o indicador esteja em 8,6% ao ano.
No mesmo
documento, o mercado projeta inflação de 3,5% em 2026. Se as previsões se confirmarem,
o ganho real na renda fixa atrelada à Selic será de 5% em 2026. Em um
cenário como esse, quem não tem apetite a risco, mas não quer ver a inflação
derreter seu patrimônio, faz o quê?
Segundo o
"Raio-X do Investidor", mais da metade das pessoas não tem
conhecimento de produtos de investimento. Não sabe, por exemplo, que é possível
investir em ativos judiciais, como precatórios, em fundos de investimento
que oferecem rentabilidade de até 25% ao ano e baixo risco.
Mas como? Os
precatórios são dívidas de processos perdidos pelo governo, que ele é obrigado,
pelo judiciário, a pagar. Geralmente, demora muitos anos, mas paga. Os fundos
de investimento (que não têm pressa para receber), negociam com desconto os
títulos com credores que não querem esperar anos para receber. Esse desconto,
ou "deságio", somado à taxa Selic, se transforma em rentabilidade
para os cotistas do fundo. O resultado é um ativo previsível como a renda fixa,
seguro, mas com rentabilidade superior.
O novo filé
mignon que chegou para o jantar.
(*) MBA estre em
Gestão Empresarial pela University of New Mexico (USA) e Conselheiro
Empresarial pelo IBGC.
Fonte: O Povo, de 31/10/23. Opinião. p.16.
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