terça-feira, 19 de dezembro de 2023

SAÚDE E VIZINHANÇA, UMA VISÃO ATUAL

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

Há alguns dias perguntaram-me, numa conversa de corredor, se era verdade que a "saúde" não tem jeito. Foi sob essa provocação que decidi escrever esse artigo. Assim, conversei com várias pessoas, perguntei-lhes o que era boa saúde. A grande maioria respondeu-me que era não ter nenhuma doença.

Nesse ano foi publicado no Jornal of American College of Cardiology os fatores responsáveis pela qualidade de vida e da saúde cardiovascular. Especificamente são: a realidade social e da comunidade, a qualidade da educação, a vizinhança, o acesso ao sistema de saúde de qualidade e a estabilidade econômica.

O artigo é oportuno pois precisamos discutir as necessidades de ajuste do Sistema de Saúde Público e Privado, quando se mostram em evidente crise, tanto no aspecto financeiro quanto na incapacidade de responder às necessidades da sociedade, independente da região do nosso país.

Também foi recentemente publicada análise do excesso de mortalidade nos EUA entre 2017 e 2021. A constatação do aumento em 17% do número de mortes esperadas, mesmo antes da Covid, põe em questão a eficiência do modelo de saúde. É ainda mais preocupante que 50% dos mortos eram pessoas de 15 a 60 anos, principalmente vítimas do abuso de drogas, álcool e suicídio.

Para alguns pesquisadores, ou mesmo estudiosos de saúde pública, os fatos são bastantes conhecidos. Especialmente a relação direta entre o ambiente social, em particular a questão da qualidade das moradias, a renda per capita média e o bem-estar social.

Olhando para esse ângulo de análise é incompreensível o silêncio ou a incapacidade de estabelecer um debate com a sociedade.

É certo afirmar que em tempos de crise o bom senso desaparece. Por outro lado, sabe-se que uma atitude política desvinculada da realidade se traduz em propostas inscientes, e evidentemente, com resultados negativos.

A formulação de políticas públicas exige compreensão das mudanças dos valores e da realidade social, análise das relações de trabalho e conhecimento consubstanciado das necessidades contemporâneas. Ou seja, qualquer estratégia que objetive melhorar a saúde e qualidade de vida precisa focar na transformação do contexto social, moradias e distribuição de renda.

A ciência precisa subsidiar processos de transformação. Só para exemplificar a OCDE publicou algumas habilidades essenciais para futuros empregos; liderança, resolução de conflitos, domínio de línguas, capacidade de trabalho em grupo, raciocínio crítico e visão humanista.

Afinal, estamos no caminho certo, ou não?

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/12/2023. Opinião. p.19.

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