Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Há alguns dias
perguntaram-me, numa conversa de corredor, se era verdade que a
"saúde" não tem jeito. Foi sob essa provocação que decidi escrever
esse artigo. Assim, conversei com várias pessoas, perguntei-lhes o que era boa
saúde. A grande maioria respondeu-me que era não ter nenhuma doença.
Nesse ano foi
publicado no Jornal of American College of Cardiology os fatores responsáveis
pela qualidade de vida e da saúde cardiovascular. Especificamente são: a
realidade social e da comunidade, a qualidade da educação, a vizinhança, o
acesso ao sistema de saúde de qualidade e a estabilidade econômica.
O artigo é
oportuno pois precisamos discutir as necessidades de ajuste do Sistema de Saúde
Público e Privado, quando se mostram em evidente crise, tanto no aspecto
financeiro quanto na incapacidade de responder às necessidades da sociedade,
independente da região do nosso país.
Também foi
recentemente publicada análise do excesso de mortalidade nos EUA entre 2017 e
2021. A constatação do aumento em 17% do número de mortes esperadas, mesmo
antes da Covid, põe em questão a eficiência do modelo de saúde. É ainda mais
preocupante que 50% dos mortos eram pessoas de 15 a 60 anos, principalmente
vítimas do abuso de drogas, álcool e suicídio.
Para alguns
pesquisadores, ou mesmo estudiosos de saúde pública, os fatos são bastantes
conhecidos. Especialmente a relação direta entre o ambiente social, em
particular a questão da qualidade das moradias, a renda per capita média e o
bem-estar social.
Olhando para
esse ângulo de análise é incompreensível o silêncio ou a incapacidade de
estabelecer um debate com a sociedade.
É certo
afirmar que em tempos de crise o bom senso desaparece. Por outro lado, sabe-se
que uma atitude política desvinculada da realidade se traduz em propostas
inscientes, e evidentemente, com resultados negativos.
A formulação
de políticas públicas exige compreensão das mudanças dos valores e da realidade
social, análise das relações de trabalho e conhecimento consubstanciado das
necessidades contemporâneas. Ou seja, qualquer estratégia que objetive melhorar
a saúde e qualidade de vida precisa focar na transformação do contexto social,
moradias e distribuição de renda.
A ciência
precisa subsidiar processos de transformação. Só para exemplificar a OCDE
publicou algumas habilidades essenciais para futuros empregos; liderança,
resolução de conflitos, domínio de línguas, capacidade de trabalho em grupo,
raciocínio crítico e visão humanista.
Afinal,
estamos no caminho certo, ou não?
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/12/2023. Opinião. p.19.
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