Por Pe. Eugênio
Pacelli SJ
(*)
Este é o momento de preparação para mais um Natal. É tempo de contemplar
o rosto humano de Deus. O Nascimento do Senhor é um evento rico em significado
e nos traz múltiplas mensagens. O ponto central desse mistério de amor é o
encontro e a identificação do Divino e do humano, do Criador e da criatura, que
se encontraram e identificaram-se intimamente na pessoa de Jesus Cristo, o
Verbo de Deus encarnado, para unir de novo o que o pecado havia dividido; para
restabelecer a relação que o mal havia rompido.
No momento em que o Verbo de Deus assume um rosto, todo ser
humano chega à plenitude de sua realização. A "descida" de Deus até a
humanidade em Belém é o que possibilita a "subida" da humanidade até
Deus. No nascimento de Jesus é revelada a grandeza, a dignidade, o mistério
inesgotável do ser humano; sendo frágil e finito, todo homem tem acesso ao
Infinito, entra em comunhão com o Infinito, recebe uma dignidade infinita.
"O Natal é Deus dizendo que divino, na realidade, é o humano. "
(Rubem Alves).
Desejando o nosso Amor, Deus assumiu nossa humanidade até as
últimas consequências. Quis conquistar-nos pelo afeto. Manifesta-se como
criança pequena e sonolenta, necessitada de colo de mãe, diante do espanto do
pai. É a fragilidade de uma criança que aviva em nós o assombro. Somos
convidados a contemplar o menino na manjedoura com um sentimento de admiração e
com imenso afeto, como pedia Santo Inácio. Deus quer tocar o nosso coração,
despertar a nossa ternura, invocando nossa capacidade de amar. De fato, os
desígnios do amor de Deus são obscuros e confusos para os que se julgam sábios
e incompreensíveis para as pessoas "sérias". Isso porque todas as
obras de Deus são vertiginosas e nos causam espanto, admiração, encantamento.
Deus pede que o amemos. Deus quer ser amado, não temido!
Para conhecer a realidade e a verdade do Nascimento de Jesus,
precisamos de um olhar novo e de um coração novo. É necessário despertar a
sensibilidade escondida, velada pelo ativismo e pelo ritmo estressante de nossa
vida. Natal precisa de calma, silencio e pausa. Precisamos treinar nosso olhar
e nossa inteligência de maneira a não deixar fugir os sinais da Salvação de
Deus a acontecer no meio de nós.
Assim ao saborear o Amor do Eterno que se faz Terno, brota em
nosso coração o compromisso de comunicar ao mundo, Aquele que se comunicou a
nós, revestido da nossa fragilidade. Ele nos ensinou a Amar e a descobrir o
Deus que nasce em todas as coisas, e todas as coisas renascem n´Ele. Ele é
nossa esperança!
(*) Sacerdote jesuíta e mestre em Teologia. Escritor. Diretor do
Mosteiro dos Jesuítas de Baturité e do Polo Santo Inácio. Fundador do Movimento
Amare.
Fonte: O Povo, de 30/12/2023.
Opinião. p.28.
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