José Milton de Castro Lima, filho de Francisco Nanci de Lima e
Sebastiana Rodrigues Lima, nasceu em 27 de dezembro de 1955, em Uruburetama-CE,
no seio de uma família de numerosa prole, aquinhoado com nove irmãos. Em 1960,
quando ele contava cinco anos de idade, sua família migra para capital cearense
em busca de melhores condições de escolarização dos filhos.
José Milton fez os seus estudos primários e secundários, a
partir de 1961, em Fortaleza. Cursou o Primário em uma escola pública, o Grupo
Escolar Antônio Sales, e o Ginasial e o Científico em vários colégios
particulares (Arminda de Araújo, Farias Brito, Rui Barbosa, Júlia Jorge e
Lourenço Filho), mediante bolsas de estudos condicionadas à manutenção de alto
rendimento escolar, concedidas pela empresa em que seu genitor trabalhava como
motorista. Ainda quando estudante, para ajudar no orçamento familiar, ele fazia
serviços de office-boy numa oficina
de conserto de relógio de um seu tio.
Ao chegar o terceiro ano científico, José Milton não pode mais
auferir a bolsa empresarial que até então usufruía, mas mercê do seu desempenho
estudantil logrou êxito em um concurso de bolsas do Colégio Lourenço Filho, o
que permitiu a sua preparação pré-vestibular no “cursinho” desse colégio, em
1974, em plena ascensão no mercado local e disposto a quebrar a hegemonia do
“cursinho” do Colégio Cearense nos certames vestibulares da Universidade
Federal do Ceará (UFC).
Com efeito, no exame vestibular unificado de 1975.1 da UFC o
“cursinho” do Colégio Lourenço Filho interrompeu a sequência de primeiro lugar
geral desse concurso de habilitação, que o “cursinho” dos Irmãos Maristas
conservava por seis anos, com o vestibulando José Eudes Bastos Pinho, hoje um
consagrado cirurgião geral, que amealhou a primeira colocação. Nessa seleção,
José Milton de Castro Lima foi o 54º classificado geral, o que lhe conferiu uma
boa posição entre os que optaram pelo curso médico.
O primeiro ano do Curso de Medicina, iniciado em 1975 pelo Ciclo
Básico, de amargas lembranças, tinha aulas ministradas no Campus do Pici, com as disciplinas de Cálculo I, Física, Química
Orgânica, Biologia, Introdução à Bioquímica, Estatística e Sociologia,
oferecidas de forma simultânea para alunos de todos os cursos, com algumas
matérias que pouco acrescentariam à formação dos futuros médicos.
Na apreciação do aqui perfilado esse “primeiro ano foi pautado
por muita angústia e frustração por parte dos jovens recém-egressos dos
colégios e cursinhos, todos ávidos por microscópios, vestes brancas, jalecos,
estetoscópios e principalmente de contatos com pacientes. Todos queriam
respirar doenças, diagnósticos e tratamentos, afinal de contas investiram
muitos esforços para esse fim”.
O ano de 1976 assinalou a chegada da sua turma no Campus do Porangabuçu, quando passou a
ter as disciplinas de Anatomia, Histologia, Fisiologia, Farmacologia, Patologia
Geral, Parasitologia e Microbiologia, incorporando teorias e novos conhecimentos
relevantes à conduta médica. Na sequência, adentrou no ciclo profissional, tendo,
dentre as disciplinas mais envolventes, a Semiologia e a Clínica Médica, sendo premiado
pela convivência com respeitáveis mestres que marcaram de forma particular a
sua vida profissional.
Durante a sua graduação foi monitor concursado de Farmacologia,
no período de março/78 a março/80, e de Clínica Médica, de abril a dezembro/80;
para arcar com seus gastos pessoais, do quinto semestre até o Internato, foi professor
de Matemática no Colégio Estadual Monsenhor Dourado, no turno da noite, para
alunos da 7a e 8a séries ginasiais.
Em complemento à formação acadêmica, procurou estágios
extracurriculares a fim de suprir algumas deficiências do seu Curso de Medicina.
Nesse sentido, cumpriu os seguintes estágios: Santa Casa de Misericórdia de
Fortaleza, no setor de Clínica Oncológica, de janeiro de 1977 a janeiro de
1978; Instituto Dr. José Frota, nos serviços de Cirurgia de Urgência, Clínica
Médica, Pediatria e Unidade de Terapia Intensiva, de março de 1978 a março de
1980; Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, no setor de Clínica Cirúrgica, de
maio de 1978 a maio de 1979; Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, como plantonista
no setor de Clínica Oncológica, de junho de 1979 a dezembro de 1979; Hospital
Pronto Socorro dos Acidentados, no setor de Cardiologia e Clínica Médica, de
janeiro a dezembro de 1980; Hospital Geral Dr. César Cals, na Clínica
Gineco-Obstétrica, de outubro de 1979 a março de 1980; e Departamento Médico do
SESC, como bolsista concursado, de janeiro a dezembro de 1979.
Após realizar o internato no Hospital Universitário Walter
Cantídio (HUWC), José Milton de Castro Lima integrou a Turma de Médicos da UFC 1980.2,
que recebeu o nome de Samuel Pessoa, cuja diplomação se deu em janeiro de 1981.
Como indicativo do seu rendimento acadêmico, o Dr. José Milton de
Castro Lima foi aprovado nos processos seletivos de Residência Médica (RM) na
Área de Clínica Médica dos seguintes programas: Hospital Geral de Fortaleza do
INAMPS, HUWC da UFC, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo,
Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro e Hospital do Servidor
Público Estadual Francisco Morato de São Paulo.
No começo de 1981 ingressou na Residência Médica em Clínica
Médica do HUWC, mas diante da subsequente aprovação para preencher a vaga da Residência
Médica em Clínica Médica no Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro
(HSE), celeiro incontestável da Medicina Interna no Brasil, desde a década de 1950,
e um sonho pessoal acalentado desde o quarto ano de Medicina, renunciou ao
programa de Fortaleza, dirigindo-se ao Rio de Janeiro, onde realizou a sua RM
em Clínica Médica de março de 1981 a
fevereiro de1983, na qual sorveu preciosos ensinamentos de notáveis
preceptores, sob a liderança do grandioso Mestre, o Dr. Adrelírio Rios,
reconhecido expoente da Medicina Interna brasileira.
Ao tempo em que cumpria a RM do Hospital dos Servidores, o Dr. Milton
Lima aproveitou a permanência nas terras cariocas para realizar também a
Especialização em Medicina do Trabalho, carga horária de 440 h/a, pela
Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, concluída, em março de 1982, com a apresentação
da monografia intitulada “Silicose”.
Com a intenção de prosseguir seus estudos, após a RM, decidiu
não retornar, de pronto, ao Ceará, trilhando o caminho do Mestrado em Medicina,
que fez na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Área de Concentração em Gastroenterologia
Clínica, no período de 1983 a 1985, com defesa da dissertação em 6 de novembro
de 1987, intitulada: “Peliose Hepática: uma curiosidade anatomopatológica
torna-se iatrogenia clínica”, orientada pelos Profs. Drs. Gilberto José Nagle e
Vera Lúcia Halffoun.
Ainda durante o mestrado, em 1983, Dr. Milton Lima foi aprovado
em dois concursos públicos para a docência superior: o de Professor Auxiliar no
setor de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal
Fluminense em Niteroi-RJ, e o de Professor Auxiliar do Departamento de Medicina
Clínica do então Centro Ciências da Saúde da UFC, que veio a ser empossado em 27
de abril de 1984. Nesse entretempo, foi aprovado em Concurso Público para médico
do Ministério da Saúde em 1983, cargo esse que não chegou a assumir.
Completou a sua formação acadêmica com o Doutorado em Medicina, na
Área de Concentração em Gastroenterologia Clínica, cumprido na Escola Paulista
de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, no período de 1989 a 1991, e
concluso com defesa de Tese, em 20 de dezembro de 1993, intitulada:
"Primeira fase da resposta insulínica em alcoolista", conduzida sob a
orientação do Prof. Dr. Manoel Martins das Neves.
Por ocasião do XV Congresso Brasileiro de Hepatologia, realizado
no Rio de Janeiro, o Dr. Milton Lima obteve, em 11 de outubro de 1999, mediante
concurso, o Título de Especialista em Hepatologia.
No que tange à docência da UFC, de início, o Prof. Milton Lima ministrava
aula na I Clínica Médica, oferecida aos alunos do sexto semestre; a outra
disciplina em que atuava era Iniciação ao Exame Clínico. Outra atividade era a
preceptoria do Internato de Clínica Médica. Em 2001, em uma reforma curricular,
quando as disciplinas foram convertidas em módulos integrados, passou a ministrar
aula no módulo de Clínica e Cirurgia do Aparelho Digestório. Em julho de 2004 começou
a ofertar a disciplina optativa, de caráter intensivo, Imagenologia no Estudo
das Doenças do Trato Digestório e Anexos, juntamente com os professores do
setor de radiologia Jesus Irajacy Fernandes da Costa e José Daniel Vieira de
Castro; oferecida duas vezes ao ano desde então.
Na pós-graduação lato
sensu, modalidade de Residência Médica, atuou como Preceptor da RM de
Clínica Médica e na de Gastroenterologia do HUWC da UFC. Com outros colegas,
instituiu a Disciplina SBP 705 – Gastroenterologia, ofertada no Programa de
Pós-Graduação stricto sensu em
Clínica Médica do Departamento de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina da
UFC, no período de 1997 a 2002.
No que concerne às suas atividades assistenciais no HUWC/UFC, introduziu
o primeiro ambulatório de Hepatites Virais Agudas e Crônicas e chefiou o
Serviço de Gastroenterologia e Hepatologia, de 1991 a 2005, um importante
suporte para as exitosas equipes de cirurgia de transplantes de órgãos.
O Prof. Milton Lima exerceu a posição de Subchefe e Chefe do
Departamento de Medicina Clínica da Universidade Federal do Ceará nos períodos
de março 2010 a março de 2011, e de março a dezembro de 2011, respectivamente.
O currículo do Prof. Dr. José Milton de Castro Lima na Plataforma Lattes aponta que ele tem
experiência na área de Medicina, com ênfase em Gastroenterologia e em Hepatologia,
atuando principalmente nos seguintes temas: fatores de risco, hepatite C,
hepatite B, epidemiologia e hepatite autoimune, doença de Wilson, disfunção
renal em pacientes cirróticos. Assinala ainda que foi o Coordenador no Estado
do Ceará do Projeto de Pesquisa - Inquérito nacional de base populacional nas
capitais brasileira sobre hepatites virais A, B e C realizado de 2002 a 2004.
Na retrospectiva de mais de quatro
década de atividade acadêmica, o ora biografado assim se credenciou: “é notória
a maior atuação no atendimento ao paciente e na lida com os alunos na docência,
aspecto natural advindo por certo de inclinações pessoais. Todavia, também
atuamos na pesquisa científica, aspecto da vida universitária de importância
progressivamente maior na prática médica, assim experimentei”.
Em 2018, atinge o ápice da carreira ao se tornar Professor
Titular do Departamento de Medicina Clínica da UFC, na área de concentração em
Hepatologia.
No Memorial apresentado à Faculdade de
Medicina da UFC, junto ao
Departamento de Medicina Clínica, para ser alçado ao cargo de Professor
Titular, o Prof. Dr. José
Milton de Castro Lima, contabilizava: três livros, 33 capítulos de livro,
11 trabalhos completos, 51 resumos publicados em anais de eventos e várias
dezenas de trabalhos apresentados em Congressos, tendo concorrido como
expositor em mais de uma centena deles.
Da sua
produção técnica, vale realçar a coautoria do livro
“Gastroenterologia e Hepatologia:
sintomas, sinais, diagnóstico e tratamento”, cuja primeira edição, em 2010, com
a tiragem inicial de 1.500 exemplares, esgotou, o que demandou uma segunda
edição, em 2019, que vem sendo um sucesso editorial de âmbito nacional.
Do Memorial em epígrafe, identifica-se
que ele foi orientador de cinco bolsistas de Iniciação
Científica e participou das seguintes bancas examinadoras: oito de qualificação e 15 dissertações de
Mestrado; oito teses de Doutorado e de outras 14 de concursos públicos docentes.
Na área associativa profissional, é
Membro Titular da Sociedade Brasileira de Gastroenterologia e Vice-Presidente
eleito da Sociedade Brasileira de Hepatologia, para o biênio 2024-2026. Foi
Conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec), de
1988 a 1993; Diretor de Ensino Continuado do Centro Médico Cearense, de 1993 a
1995; e Presidente da Sociedade Cearense de Gastroenterologia, de 1995 a 1999.
Ademais, foi o primeiro Coordenador do
Comitê Estadual das Hepatites Virais da SESA-CE em 2020 e é membro da Câmara
Técnica Estadual de Transplante de Fígado do Ceará, desde 2010 até o momento
atual.
Ao longo de quase 40 anos de
magistério, por muitas vezes, teve o seu pujante trabalho reconhecido, sendo
reverenciado com diversas homenagens por alunos, internos e médicos residentes,
figurando como nome de turma, patrono, paraninfo, professor homenageado ou
mesmo convidado a ministrar aula da saudade para os concludentes de Medicina.
Dentre as homenagens institucionais
mais relevantes, comporta mencionar o de ter sido: agraciado com: a comenda
Centro Médico Cearense (2002); o título de Amigo do Transplante de Medula
Óssea, pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Científica (2010); a comenda de
Honra ao Mérito, pela Sociedade Cearense de Gastroenterologia (2012); a comenda
de Honra ao Mérito, pela UFC (2012) e a Homenagem Distinção no Ensino Médico,
pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFC (2016).
Coroando um percurso digno de encômios,
o Dr. José Milton de Castro Lima foi, em 2022, um dos três médicos galardoados
com a Medalha de Honra ao Mérito Profissional do Cremec, uma honraria conferida,
anualmente, a médicos do Ceará que tenham o exercício da sua profissão pautado
por ilibada conduta ética.
O Dr. Milton Lima, mais conhecido
carinhosamente por Miltinho, é casado, desde 17/02/1983, com Maria das Graças
Lima (professora aposentada) com quem tem os filhos Felipe (administrador e
fotógrafo) e Marcelo (médico) e são os avós de Tainá e Otto.
O Acad. José
Milton de Castro Lima foi
empossado na Academia Cearense de Medicina (ACM), em 29/09/2023, na Cadeira 27,
patroneada por Augusto Hyder Correia Lima, e anteriormente ocupada pelo Acad. Martinho
Rodrigues Fernando, que passou para o estado funcional de membro honorável,
sendo saudado no momento da sua investidura acadêmica pelo Acad. Ivan de Araújo
Moura Fé.
Cons. Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Membro titular da ACM – Cad.
18
*Publicado In: Jornal do médico digital, 3(46):
31-37 dezembro de 2023. (Revista Médica
Independente do Ceará).
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