segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

PROFISSÃO DOCENTE E O APAGÃO À VISTA

Por Cecília Lacerda (*)

O que você vai ser quando crescer? Dito de outra forma: qual a profissão que você vai querer trabalhar quando crescer? Essas perguntas clássicas, mesmo de outras formas, são abordadas na primeira infância. Mesmo sabendo dos possíveis equívocos dessa pergunta, sinalizo outra questão: como fazer para ser uma pessoa melhor? Algo tem me inquietado no que se refere à profissão que o jovem vai exercer, quando nas andanças em escolas, pergunto aos jovens qual a profissão de escolha. Fico deveras assustada, quase ninguém afirma "quero ser professor". E por isso, coloco a reflexão que nos impacta: quem serão os professores das novas gerações?

Se de um lado o jovem não quer ser professor, por outro, faltam professores nas escolas, principalmente nas áreas de Matemática, Física, Química, Língua Estrangeira e outras. Assim, um professor de uma área de conhecimento precisa ensinar outras áreas que não são da sua formação para suprir demandas do currículo escolar e, desse modo, as escolas passam a improvisar a lotação desses docentes para suprir lacunas, principalmente no Ensino Fundamental anos finais e no Ensino Médio.

A Pesquisa realizada pela Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação aponta uma defasagem de 235 mil professores no ano de 2040, caso não haja nenhuma intervenção necessária. Além disso, há aqueles que desistem da profissão docente nos cinco primeiros anos de trabalho.

Muitos são os motivos que podem justificar a falta de interesse pela carreira docente como: a falta de reconhecimento social; a baixa remuneração; a falta de condições de trabalho, como estrutura para estudos e planejamentos, e equipamentos adequados para o exercício profissional, ausências de mentorias pedagógicas qualificadas, principalmente no acompanhamento do desenvolvimento profissional nos primeiros anos de profissão; violências no campo escolar, ocasionando medo e insegurança; excesso de atividades laborais, trazendo stress emocional; bem como a cultura da burocratização das atividades docentes em detrimento as dimensões políticas e pedagógicas.

Mesmo com alguns dos programas dentro da política educacional, voltados para "oxigenar "a profissão com incentivo ao ingresso e a permanência na carreira docente, ainda estamos diante de ações pontuais e paliativas que amenizam a situação expressa, mas não trabalham as reais causas da "desvalorização da profissão".

Esse quadro exige vontade política junto à implementação de políticas públicas eficazes em parceria com os atores do campo educacional, sociedade civil organizada, institutos, universidades e escolas. Não podemos cruzar os braços no possível apagão de professores, precisamos lutar por uma sociedade que valorize a profissão, a fim de que jovem almeje ser professor, por que não?

(*) Professora da Uece. Pesquisadora na área de formação de professores.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 23/11/23. Opinião, p.19.

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