Por Fábio Perdigão Vasconcelos (*)
Além de um conceito, poluição - do latim, "polure",
sujidade, é uma questão antiga para a humanidade, que foi, é e será, sempre um
problema a ser resolvido, uma vez que dependemos da água para tudo! Em
Fortaleza o problema data de sua fundação como vila, ocupando as margens do
riacho Pajeú, usando água limpa e lançando dejetos de volta, seguindo a lógica
da urbanização sem planejamento.
A poluição nas praias de Fortaleza é debatida há décadas, tema de
seminários e congressos, além de artigos em jornais de grande circulação, como
a matéria que publicamos no Jornal O POVO em 9/1/1980, sobre a poluição na
enseada do Mucuripe.
Uma cidade com as características ambientais de Fortaleza tem
grandes chances de poluir seus recursos hídricos. A declividade suave dificulta
o escoamento das águas, estando ainda sob uma hidrologia fraca, com pouco
volume de água nos recursos hídricos, o que diminui a capacidade de diluição
dos poluentes antes de sua chegada ao destino natural, o mar. Associamos a
esses fatos a presença humana de 2,5 milhões de pessoas em apenas 318 km², mais
de 8 mil hab/Km².
Fortaleza apresentou uma "explosão" demográfica entre 1960
e 1980. Quadruplicamos a população em apenas 20 anos. Essa expansão sobre o
território limitou a capacidade do poder público de fornecer saneamento
ambiental à população de forma eficiente. Um terço da cidade ainda não tem rede
de esgotos.
Entretanto, mesmo em áreas cobertas por saneamento, temos casos de
poluição hídrica por coliformes fecais, lançados clandestinamente nas galerias
pluviais, que deveriam receber apenas águas de chuvas. Isso continua ocorrendo,
como é o caso atual da Praia de Iracema que teve sua galeria pluvial
transformada em esgoto. Essa galeria corta o bairro Meireles, o mais rico de
Fortaleza, sendo contaminada por mais de 300 ligações clandestinas de esgotos.
Nesse caso o problema não é somente de educação ou de falta de
recursos públicos ou de pobreza da população, é essencialmente de educação
social, de aprender a viver coletivamente. A poluição tem efeitos deletérios
para a sociedade, compete ao poder público de solucionar o problema.
(*) Professor da Uece.
Coordenador da CEVC/Uece.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 22/12/23. Opinião. p.28.
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