segunda-feira, 11 de março de 2024

O MELHOR COLÍRIO

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

Meus olhos agradeciam pelo que viam e meu cérebro agradecia pelo cenário que meus olhos lhe enviavam. Será que o meu excelente estado de espírito era devido àquela bela vista? Talvez. Será que aquele espelho d'água me fazia bem? Acho que sim. Será que a minha satisfação se dava porque, quando criança, aquele era meu lugar escolhido para preferido? Provavelmente sim.

Por volta de 585 a.C., Tales, da cidade de Mileto - que pertencia à Grécia -, hoje na Turquia, dizia: "A água é a origem de todas as coisas." A água é usada em batismos. E, para Darwin, a origem da vida na Terra ocorreu na água, quando surgiram seres primitivos, tais como bactérias, algas e microrganismos, há cerca de 3,5 bilhões de anos.

O notável José de Alencar talvez tenha considerado a água um fator de coesão em "Iracema", uma vez que ela simboliza a conexão entre mundos e culturas. O mar, por exemplo, é o que traz Martim ao Brasil, unindo-o a Iracema.

Além de iniciar a preciosa obra "Iracema" enaltecendo os verdes mares bravios, o escritor levou seus leitores a percorrerem mentalmente os trajetos da virgem dos lábios de mel, quando afirmou: "Os mesmos guerreiros que a tinham visto alegre nas águas da Porangaba, agora encontrando-a triste e só, como a garça viúva, na margem do rio, chamavam aquele sítio de Mecejana, que significa a abandonada." E conta Alencar: "viajantes estiveram em Mocoripe três sóis. Depois Martim levou seus passos além. A esposa e o amigo tornaram à embocadura do rio cujas margens eram alagadas e cobertas de mangue. O mar, entrando por ele, formava uma bacia cheia de água cristalina, cavada na pedra como um camucim."

Será que o meu visual predileto, a Lagoa de Messejana, era também o do romancista que, como eu, residia por ali? Era lá que eu me conformava com uma tristeza inevitável por que passam todos os seres, humanos ou não. Ali estava eu no mesmo ambiente escolhido por Alencar para ser o lugar de um abandono voluntário. Fora ele designado por uma palavra com significado de abandono e que foi a última de todas, na situação compulsória e injusta, uma vez que a vida é maravilhosa.

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 11/012/24. Opinião, p.14.


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