Nos anos setenta do século XX, os
anatomistas discutiam uma reforma da terminologia anatômica, que envolvia,
entre outras medidas, a padronização dos termos, a redução da sinonímia e a
restrição ao uso de epônimos das estruturas anatômicas. Um dos exemplos dessas
mudanças, era a de que os linfonodos passavam a denominar-se gânglios
linfáticos. Logicamente que tais alterações causavam uma certa inquietação aos
alunos, temerosos de perder pontos nas avaliações de rendimento escolar.
Na vigência dessa determinação, transcorria,
na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), a atividade
prática na sala de dissecção. Foi em um momento como esse que um acadêmico
ingressou na sala, de supetão, todo esbaforido, e anunciou ofegante:
– Turma!!! Gente!!! É urgente, turma!!!
Os acadêmicos interromperam a dissecação e
as leituras, para ouvir o colega mensageiro.
– O que foi de tão urgente!? – Indagou uma
aluna, na expectativa da possível notícia.
– Gente! Eles voltaram! – Exclamou o aluno
recém-chegado.
– Eles quem!? – Perguntou um monitor que
acompanhava a aula prática.
– Os linfonodos voltaram!!! – Concluiu o
estudante portador da boa nova, quase desfalecendo de cansaço, ansioso por
transmitir a novidade aos companheiros.
O ambiente foi tomado de risos, diante da
forma como a alvissareira informação fora prestada. Tudo isso foi,
simplesmente, para dizer que os anatomistas tinham recusado a mudança do nome
linfonodos.
O episódio lembraria até Filípedes (ou
Fidípedes), o soldado grego que percorreu quarenta quilômetros, e tombou morto,
após anunciar a vitória dos gregos sobre os persas em Maratona, na primeira
Guerra Médica (dos medos, e não dos médicos, para ser mais claro), em
Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Da Sobrames/CE e da Academia Cearense de Médicos
Escritores
Fonte: SILVA, Marcelo Gurgel Carlos da. Medicina, meu humor! Contando causos médicos. 2.ed. Fortaleza:
Edição do Autor, 2022. 144p. p.55-56.
* Republicado In: AMC. Causo médico: o maratonista anatômico. Informativo AMC (Associação
Médica Cearense). Outubro de 2023 - Edição n.26, p.20 (online)).
Nenhum comentário:
Postar um comentário