Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Em seu livro "A
vida não é útil", Ailton Krenak, primeiro indígena a ocupar uma cadeira na
Academia Brasileira de Letras, cita o nativo norte-americano Wakya Manee, ao
dizer: "Quando o último peixe vivo estiver nas águas e a última árvore for
removida da terra, só então o homem perceberá que ele não é capaz de comer seu
dinheiro." Os indígenas muito nos ensinam.
Em seu compêndio "O
índio brasileiro e a Revolução Francesa", Afonso Arinos retrocede a 1625 e
cita a obra "Histoire de la religion des Turcs", de Michel Baudier,
que, evidentemente inspirado por Montaigne, afirmou: "Os Tupinambás [...],
entrando no Louvre viram vários mendigos seminus, trazendo impressas nas faces
as horrendas marcas da fome, os quais estavam deitados lá perto sobre
imundície, e, do outro lado [...] cortesãos, uns cobertos de ouro, outros
faiscantes de pedrarias: eles perguntaram se os que estavam deitados no lixo
não eram tão homens como os outros. Disseram-lhes que sim. Então eles
retrucaram com espanto que estes homens pobres se deviam lançar sobre os
bem-vestidos e arrancar-lhes, à força, uma parte dos seus bens. Que em um país
a igualdade dos bens necessários à vida não permitia que vários abusassem assim
das riquezas, para deixarem sofrer os outros à mercê da fome e da sede."
O "Jornal
Nacional", em 29/02/2024, noticiou que, em reunião, os alunos da Albert
Einstein College of Medicine ouviram: "Eu estou feliz em anunciar que a
Faculdade não cobrará mais mensalidade." A Professora Ruth Gottesman
seguiu seu marido David, que havia falecido em 2022 e lhe dissera:
"Encontre um sentido para o dinheiro que você herdará. Faça o que achar
certo." Ruth, então, doou US$ 1 bilhão, quase R$ 5 bilhões, à entidade.
Ela tem 93 anos, 55 deles a trabalhar lá. Para os alunos, a doação foi a
realização de um sonho: aprender a salvar vidas. Ruth mostrou que investir na
Educação será sempre a melhor escolha para a transformação da sociedade e, a
partir de agosto de 2024, ninguém pagará por sua formação.
Exemplares atitudes nos
educam: somos vulneráveis, transitórios e precisamos uns dos outros para tornar
o mundo melhor.
(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias
Brito. Presidente da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 7/03/24. Opinião, p.18.
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