O sopro divino, de revestrés
"No
enterro do véi Djalma, tem 20 anos isso, vivi uma das mais trágicas
experiências que a criatura pode passar no planeta. O que absorvi, a caminho do
cemitério, naquele dia, condoída pela partida de um amigão de papai, foi coisa
do outro mundo. Aos fatos. Estava eu a dois passos de um tal Chico Furão, que
segurava a ponta de cá do caixão, quando ele liberou uma bufa tão fenomenal que
o séquito empalideceu. Na minha mente, até seu Djalma aspirou a catinga e,
bulindo-se no esquife, disse: 'Assim eu re-morro, macho!'"
Passadas
duas décadas do episódio insólito, eis que, de novo, eu, Gleucemia Nonata,
tornei a sentir catinga assemelhada, senão pior. Deu-se no elevador do prédio,
ao subir pro meu apartamento. Um jovem de seus 18 anos, sozinho à hora em que
adentrei à cabine, soltou um 'ninja' letal que me fez viajar em dolorosas
lembranças. Mirando o fucim do camarada, disparei na cara dele, horrorizada:
-
Esse seu peido tem a assinatura de Chico Furão! Tem vergonha de soltar gases
assim na minha frente, não, rapazinho?
-
Se a senhora preferir, fico de costas! - respondeu o intrépido menino, lascando
outro petardo intestinal.
A propósito de correio eterno
Zezinho
nunca pegou no pesado, de carteira assinada, fazendo bico. Aqui e acolá, isto
sim, suava a camisa surrupiando galinha na vizinhança. Vivia às custas do pai,
que, de repente, papocou. E Zezinho pirou. Remorso muito. Ao lembrar dos carões
recebidos, do exemplo de dignidade do genitor, da paciência de seu velho,
desequilibrou mentalmente. Foi visto deambulando no bairro, estranhamente à
busca de algo. Explicou-me:
-
Procuro um velório para pedir ao morto que leve flores e recado pra finado
papai!
Amém?!?
Homem
em alta velocidade numa moto, melado pelo modo de dirigir em ziguezague,
atropela um porco e se estatela na rodagem. Duas caridosas velhinhas correm ao
encontro dele, abanam-lhe as faces. Penalizadas, mas também horrorizadas com a
dezena de preservativos espalhados em redor...
-
Quem é o senhor?
-
Sou o padre Napoleão...
-
Tá tresvaliando! - concluiu uma delas, descrente que aquilo foi coisa de
religioso.
Do amigo Sávio Pinheiro,
republicando!
Zuza
Lemos no consultório do Dr. Rubens. Por tudo que ouve e vê, médico constata que
o septuagenário paciente abriga sério problema no coração. Carece de muito
cuidado. Prescreve verdadeiro sacrifício: absolutamente nenhum esforço físico
durante 8 dias. Zuza indaga do doutor que tipo de esforço não pode fazer.
Explica melhor:
-
O senhor sabe que eu gosto duma brincadeirinha de noite, umas camaradagens com
a criatura lá de casa, né dotô?
O
clínico geral responde firme, em nome da vida:
-
Sexo, Zuza, nem pensar! Aconselho você e sua mulher a dormirem em quartos
separados. Se insistir, você vai morrer! Vai morrer!
O
velho sertanejo volta triste pra casa. Explica à consorte que Dr. Rubens
receitara repouso absoluto. Sequer podia pensar naquilo. Quando deu de noite,
marido e mulher vão dormir em quartos separados. Primeira, segunda e terceira
noite, beleza; Zuza Lemos cumpre rigorosamente as recomendações. Na madrugada
da quarta noite, porém, a mulher é acordada com os gritos do marido, na porta
do quarto dela. Ele, aos berros...
-
Mulher!!! Pelo amor de Deus, mulher!
-
Que foi, home? Que é, Zuza?
-
Abre essa porta que eu quero morrer!
Fonte: O POVO, de 8/03/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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