sexta-feira, 10 de maio de 2024

Crônica: “Aqui vale mentir, só não vale acreditar!” ... e outros causos

Aqui vale mentir, só não vale acreditar!

O milagre da imagem.

Por "pessoa braba" entenda o "casca grossa estrutural", ignorante das coisas, mas sem malícia. O "canto de cerca" que mela a vara por insipiência. É o caso de uma rica viúva por nome Tota, moradora da zona rural de Apuiarés, ignorante de pai, mãe e parteira, como diziam os provençais.

Contou-lhe uma vizinha interesseira que a Mesbla vendia o mais monumental lançamento da época: o videocassete. Que numa propaganda o aparelho "amostrava" imagens bacanas numa "telona". Que podia parcelar em 12 vezes.

Tota embarcou na onda e veio bater em Fortaleza. Podia não ter marido, mas um videocassete em casa ia ter. A vizinha falou! E ela já tá é na loja, mesmo. Vendedor testa o aparelho comprado, "aprovado". De volta ao sítio...

Vizinha se coçando de ansiedade pra ver a novidade sugerida. Mas o videocassete dá "poblema", e Tota vem se reclamar. Vendedor crê que tenha sido "os catabilhos" da viagem. Por via das dúvidas, entrega aparelho novo à cliente.

Máquina testada e aprovada. Ao ligar o bicho, em casa, no sertão, nova frustração. "Tá pifado". À Mesbla regressa, exibindo grosseria das boas, do alto dos tamancos. Vendedor horrorizado. Pra evitar imbuança maior, a gerência torna a liberar aparelho zerado.

Em Apuiarés, com cuidado, Tota liga pela terceira vez o videocassete. Necas! A tal vizinha então se enfeza: "Vá 'dicretada' ao DECON". Em face de tanto mal-entendido, o promotor chama as partes querelantes pra acareação.

Após o tête-à-tête (loja se dizendo inocente, querelante anuindo prejuízo), a conclusão: Ministério Público e Mesbla irão à casa de dona Tota, com técnico, pra ver in loco que fulerage é essa. Lá foram todos.

Tão somente pra constatar que não havia problema algum com o videocassete. Tota simplesmente não tinha aparelho de TV em casa...

Computador fofoqueiro

E o computador chegou à longínqua zona rural de Brejo Santo. Estamos no Sindicato dos Trabalhadores na Agricultura. Na fila do recadastramento, seu Bobó, conhecido por dar uma voltinha no mulherio sem carecer tomar o Viagra.

- Deixo só a caixa no bolso, pro rapaz lamber os beiço.

Bobó, velho brabo, de frente pra mocinha atendente, enfim. Nome?

- Bobó, 'apilídio' de Raimundo Leopoldo.

- Muito bem, seu Raimundo. Vejamos aqui.

A funcionária do Sindicato acessa a ficha de Bobó e busca dele confirmações para o que lá está. O senhor tem 78 anos, é viúvo de dona Telma de Sousa, mora na Rua 15, casa 29, é alérgico a leite...

- Cuma num havera de sê, dona.

- Seu último trabalho foi no cartório de registros. É isso?

- Ôxe! Cuma a senhora sabe tanta coisa d'eu?

- O computador tá dizendo.

E Bobó sai dali decretado pra casa, horrorizado. Encontra a filha preparando o almoço e dispara:

- Já tinha 'ouvisto' muita gente fofoqueira, mas cuma esse computador, nããã!

Fonte: O POVO, de 22/03/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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