Por Lauro Chaves Neto (*)
A queda no ritmo
de crescimento da economia brasileira nas últimas décadas tem entre as suas
principais causas o processo de desindustrialização precoce.
De 2008 a 2018, a
participação da indústria de transformação na economia caiu de aproximadamente
17% para quase 12%, patamar que se estabilizou e significa 20% a menos do que o
registrado em 1999.
A análise
histórica evidencia que a melhoria na qualidade de vida com o desenvolvimento
econômico, na maior parte das vezes, esteve relacionada com a elevação da
participação da indústria de transformação no PIB e na geração de empregos.
O processo de
desindustrialização de países de renda alta, como os EUA e os da Escandinávia,
por exemplo, tem outra natureza, pois, a partir de um patamar elevado de renda,
existe uma diversificação da estrutura de consumo das famílias na direção de
serviços, cultura, entretenimento, e passa a existir uma redução
"natural" da participação da indústria de transformação no PIB,
podendo esse processo ser retardado com o crescimento das exportações
industriais, principalmente com avanços e inovações tecnológicas.
Em outra direção,
a desindustrialização precoce ou prematura, como a do Brasil, ocorreu antes de
ser alcançado o patamar de elevado nível de renda e qualidade de vida. Ao
contrário, verificam-se ainda bolsões de pobreza extrema e acentuadas
desigualdades sociais e territoriais.
Reverter essa
desindustrialização no Brasil requer uma efetiva articulação do poder público,
do setor produtivo e da academia, a conhecida tríplice hélice. A nova política
industrial é um alento nessa direção, porém precisa ser efetivamente implantada
e sair do discurso.
Inserir a
indústria brasileira nas cadeias globais de valor é uma condição necessária,
embora não suficiente, para isso. Sendo importante a criação de ecossistemas de
inovação, racionalização tributária, economia circular, transição energética,
infraestrutura adequada, transformação digital e oferta de crédito, dentro de
uma matriz que contemple tanto o desenvolvimento territorial como o setorial,
integrando recursos, potencialidades e vantagens competitivas.
(*) Consultor,
professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.
Fonte: O Povo, de 1/04/24. Opinião. p.18.
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