quinta-feira, 9 de maio de 2024

REVERTER A DESINDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA

Por Lauro Chaves Neto (*)

A queda no ritmo de crescimento da economia brasileira nas últimas décadas tem entre as suas principais causas o processo de desindustrialização precoce.

De 2008 a 2018, a participação da indústria de transformação na economia caiu de aproximadamente 17% para quase 12%, patamar que se estabilizou e significa 20% a menos do que o registrado em 1999.

A análise histórica evidencia que a melhoria na qualidade de vida com o desenvolvimento econômico, na maior parte das vezes, esteve relacionada com a elevação da participação da indústria de transformação no PIB e na geração de empregos.

O processo de desindustrialização de países de renda alta, como os EUA e os da Escandinávia, por exemplo, tem outra natureza, pois, a partir de um patamar elevado de renda, existe uma diversificação da estrutura de consumo das famílias na direção de serviços, cultura, entretenimento, e passa a existir uma redução "natural" da participação da indústria de transformação no PIB, podendo esse processo ser retardado com o crescimento das exportações industriais, principalmente com avanços e inovações tecnológicas.

Em outra direção, a desindustrialização precoce ou prematura, como a do Brasil, ocorreu antes de ser alcançado o patamar de elevado nível de renda e qualidade de vida. Ao contrário, verificam-se ainda bolsões de pobreza extrema e acentuadas desigualdades sociais e territoriais.

Reverter essa desindustrialização no Brasil requer uma efetiva articulação do poder público, do setor produtivo e da academia, a conhecida tríplice hélice. A nova política industrial é um alento nessa direção, porém precisa ser efetivamente implantada e sair do discurso.

Inserir a indústria brasileira nas cadeias globais de valor é uma condição necessária, embora não suficiente, para isso. Sendo importante a criação de ecossistemas de inovação, racionalização tributária, economia circular, transição energética, infraestrutura adequada, transformação digital e oferta de crédito, dentro de uma matriz que contemple tanto o desenvolvimento territorial como o setorial, integrando recursos, potencialidades e vantagens competitivas.

(*) Consultor, professor doutor da Uece e conselheiro do Conselho Federal de Economia.

Fonte: O Povo, de 1/04/24. Opinião. p.18.

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