sexta-feira, 21 de junho de 2024

Crônica: “Eviterna amizade de parada de ônibus” ... e outros causos

Eviterna amizade de parada de ônibus

Há 15 anos, uma amiga da Cristina, a Lucinha, pega o Campus do Pici-Unifor na parada da Igreja Redonda, na Av. Jovita Feitosa, com descida no ponto em frente ao Serpro, na Pontes Vieira. Tudo normal até aí, é a sina de quem vive o vai-e-vem de casa pro trabalho e do trabalho pra casa em transporte coletivo, em que linha for. O inabitual está no que viria a se transformar a parada de embarque de Lucinha, na Igreja Redonda. Era setembro.

Ponto de ônibus a ser transformado em palco de descobertas, afetos, juras, desabafos, comemorações, confidências, apadrinhamentos, promessas, solicitações, compra e venda, testemunhos, desafios. Começou com duas "paradeiras" (Lucinha e outra criatura da parada), por causa da demora na condução. A amiga da Cristina, temendo chegar atrasada na firma, convocou a desconhecida ao lado pra dividirem um táxi. Fechado.

Tinha início relação que, a partir da parada da Jovita, viverá momentos ricos de sentimentos, emoções, confidências, conveniências, convivências. Dia seguinte, nova impontualidade do coletivo e mais um táxi contratado, dividido agora para três, depois pra quatro, cinco... As amigas, caminhando pra condição de comadres, formam uma associação na dita parada. Tem de tudo ali.

- Mulher, tô precisando de uma cuidadora pra meu ex-marido, que tá gagá!

- Não seja por isso. A Fatinha, aquela da Farmácia que chega aqui 6 horas, tem uma irmã que é show!

Resumindo, rola já happy hour na casa de Lucinha, feijoada na Edmea, pão do amor na Dalvinha, grupo pagode no solar da Agripina. Para os encontros, vão maridos, filhos, parentes e aderentes. Mais oito cristuras, todas egressas da parada da Jovita, adentram ao grupo. Em pauta, batizado de pagão, virose acamando familiar, missa de sétimo dia, exame de urina açucarado, pagamento de boleto, resumo de novela, placar da rodada, resultado da loteria e um amigo secreto - era Natal (sorteio, com troca de presentes, na parada, prosseguindo no interior do coletivo).

Um ano depois, tinha varal por lá, cheio de cueiro de menino e cordel. Governo mandou tirar...

O Poeta dos Cachorros na Lua Cheia

Jair Moraes, diretamente do "beiço da Lagoa do Opaia", manda notícias um tanto atravessadas, todas relacionadas a um vizinho dele de nome Astrolábio.

1 - A (lou)cura

Um dia o "Astró" esteve internado como mental do juízo no Hospital Mira y Lopez. Um dia! Graças a Deus, recebeu alta, não apenas pela categoria dos médicos edos psicoterapeutas, mas, sobremodo, 'pela intervenção divina' que não falha. E, agora em casa, curadinho da Silva, ele agradece à Virgem Maria e estufa o peito pra dizer que, se um dia foi interno do Mira y Lopez, hoje é só lembrança. Por isso o testemunho enfatuado:

- No tempo que eu era doido eu andava lá! Agora, 'tiau'! Deus é maior!

2 - A síndrome do aí dentro

O que é isso? Explico, prezado jornalista. Trata-se da insegurança natural, do medo do pessoal ante a possibilidade de o sujeito vir a melar a vara em público e a negada lascar-lhe uma vaia, um sabacu ou mesmo de ser criticado por um doidim e, de repente, o gaiato passar e sapecar-lhe um sonoro aí dentro. É traumático um aí dentro nessas circunstâncias.

3 - Amanhã é o hoje que se foi

Trocando em miúdos, querido profissional jornalista, hoje de manhã é sempre mais distante do que amanhã de tarde. Experimente a partir da próxima semana, bem cedo, e o amigo verá que eu tenho razão sempre que a noite chegar, com cara de madrugada adentro...

Fonte: O POVO, de 3/05/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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