Eviterna amizade de parada de
ônibus
Há
15 anos, uma amiga da Cristina, a Lucinha, pega o Campus do Pici-Unifor na
parada da Igreja Redonda, na Av. Jovita Feitosa, com descida no ponto em frente
ao Serpro, na Pontes Vieira. Tudo normal até aí, é a sina de quem vive o
vai-e-vem de casa pro trabalho e do trabalho pra casa em transporte coletivo,
em que linha for. O inabitual está no que viria a se transformar a parada de
embarque de Lucinha, na Igreja Redonda. Era setembro.
Ponto
de ônibus a ser transformado em palco de descobertas, afetos, juras, desabafos,
comemorações, confidências, apadrinhamentos, promessas, solicitações, compra e
venda, testemunhos, desafios. Começou com duas "paradeiras" (Lucinha
e outra criatura da parada), por causa da demora na condução. A amiga da
Cristina, temendo chegar atrasada na firma, convocou a desconhecida ao lado pra
dividirem um táxi. Fechado.
Tinha
início relação que, a partir da parada da Jovita, viverá momentos ricos de
sentimentos, emoções, confidências, conveniências, convivências. Dia seguinte,
nova impontualidade do coletivo e mais um táxi contratado, dividido agora para
três, depois pra quatro, cinco... As amigas, caminhando pra condição de
comadres, formam uma associação na dita parada. Tem de tudo ali.
-
Mulher, tô precisando de uma cuidadora pra meu ex-marido, que tá gagá!
-
Não seja por isso. A Fatinha, aquela da Farmácia que chega aqui 6 horas, tem
uma irmã que é show!
Resumindo,
rola já happy hour na casa de Lucinha, feijoada na Edmea, pão do amor na Dalvinha,
grupo pagode no solar da Agripina. Para os encontros, vão maridos, filhos,
parentes e aderentes. Mais oito cristuras, todas egressas da parada da Jovita,
adentram ao grupo. Em pauta, batizado de pagão, virose acamando familiar, missa
de sétimo dia, exame de urina açucarado, pagamento de boleto, resumo de novela,
placar da rodada, resultado da loteria e um amigo secreto - era Natal (sorteio,
com troca de presentes, na parada, prosseguindo no interior do coletivo).
Um
ano depois, tinha varal por lá, cheio de cueiro de menino e cordel. Governo
mandou tirar...
O Poeta dos Cachorros na Lua
Cheia
Jair
Moraes, diretamente do "beiço da Lagoa do Opaia", manda notícias um
tanto atravessadas, todas relacionadas a um vizinho dele de nome Astrolábio.
1 - A (lou)cura
Um
dia o "Astró" esteve internado como mental do juízo no Hospital Mira
y Lopez. Um dia! Graças a Deus, recebeu alta, não apenas pela categoria dos
médicos edos psicoterapeutas, mas, sobremodo, 'pela intervenção divina' que não
falha. E, agora em casa, curadinho da Silva, ele agradece à Virgem Maria e
estufa o peito pra dizer que, se um dia foi interno do Mira y Lopez, hoje é só
lembrança. Por isso o testemunho enfatuado:
-
No tempo que eu era doido eu andava lá! Agora, 'tiau'! Deus é maior!
2 - A síndrome do aí dentro
O
que é isso? Explico, prezado jornalista. Trata-se da insegurança natural, do
medo do pessoal ante a possibilidade de o sujeito vir a melar a vara em público
e a negada lascar-lhe uma vaia, um sabacu ou mesmo de ser criticado por um doidim
e, de repente, o gaiato passar e sapecar-lhe um sonoro aí dentro. É traumático
um aí dentro nessas circunstâncias.
3 - Amanhã é o hoje que se foi
Trocando
em miúdos, querido profissional jornalista, hoje de manhã é sempre mais
distante do que amanhã de tarde. Experimente a partir da próxima semana, bem
cedo, e o amigo verá que eu tenho razão sempre que a noite chegar, com cara de
madrugada adentro...
Fonte: O POVO, de 3/05/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
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