sexta-feira, 5 de julho de 2024

Crônica: “Ainda que eu falasse a língua dos guaxinins...” ... e outros causos”

Ainda que eu falasse a língua dos guaxinins...

O que seria um mundo sem pombo, a ave da família dos columbídeos? Já pensou nessa ausência? Não? Seria simplesmente um mundo despombalizado? Não, não e não, meu amigo! A vida sem esses bichos de penas "encontrados em toda parte, geralmente em áreas urbanas", é bem mais que mera especulação de feitio jocoso. É algo assaz sério! Um mundo sem pombo... Valamedeus!!!

E um planeta sem calango, meu irmão? Sem tijubina e sem briba? Sem muriçoca e sem lagarta de fogo? Já pensou a terra sem um único exemplar do guaxinim e/ou do punaré, percorrendo as matas ao lado da matreira raposa, sobre a qual também repousa nossa indagação inconformada e mui pouco sábia: e se as raposas desaparecessem desse chão terráqueo, como ficariam as galinhas e as pichilingas que lhes habitam as asas?

Alô, cientistas, zoologistas! Ei, entomologistas! Respondam: desaparecendo as mariposas e os besouros rola-bosta, o que seria da humanidade? Pense aí na (o que restou de) Mata Atlântica sem um papacu, uma concriz, um sebite! Se acaso não mais restar um só marimbondo pra fazer um chá, uma pulga pra causar coceira e desconforto? Um peba, um mangangá, um papa-capim e uma lavandeira? Jesus, e se sumissem as seriemas e os jacus?

Por que o Criador, enfim, colocou esses bichos na natureza? Com que propósito? Só de enfeite? Faltar um deles somente desequilibra tudo cá entre nós? "Ainda que eu falasse a língua dos homens, e eu falasse a língua dos anjos...", sem um guaxinim, eu nada seria? Vida não havia? Quanto aos demais, se faltar um deles, muito apreciado, o desmantelo é grande!

Qual? O cururu-teitei. Sem ele, babau humanidade!

O poliglota

"Cada homem permanece onde tem o coração, porque toda alma reside onde coloca o pensamento". Verdade verdadeira. Ou, como se diz comumente, "costume de casa vai à praça". Explicando: "a gente é o que somos". Cabeção, nascido no Quixadá, no mega-aeroporto de Miami, parecia perambular por São Gerardo. Súbito, quase mata de vergonha a mulher Dijé de vergonha, tal a naturalidade com que lascou ali um arroto, bem alto, de chamar a atenção do Pentágono.

Circulavam com uma ruma de malas pelos corredores enormes, fazendo baldeação pro Canadá, quando do ocorrido. Sem a menor cerimônia, seguro de si, Cabeça solta pela boca o ruído característico, como que formando uma frase com sujeito e predicado bem claros. Três americanos que passavam ao lado estranharam a ocorrência. Meteram o pé na carreira.

Dijé deu-lhe carão do tamanho do terminal onde estavam.

- Isso é lá coisa que tu faça em terras americanas, maleducado? Arrotando! Que feio!!!

- Deixa de ser besta, mulher! Foi em português, eles não entendem!

- Marrapaz! Só falta agora tu peidar!

- Só se for de novo!...

A palavra mata...

Quanto mais o Céu dava a Zé de Lôro, mais o Zé de Lôro exigia do Céu. Além da voz potente, pediu o dom da oratória e Deus concedeu a ele invejável eloquência. Após curar um burro empanzinado e conversar com um poste, foi pregar em Messejana. Do meio da multidão, um velhinho pede uma oração pra tosse braba. Zé, a motivação em pessoa...

- Tende confiança, irmão! Oremos!

- Maravilha! Sapeque aquela que é pura esperança!

- A fé sem obra não vale / Não se fie só num rosário / Tome lambedor, bote em dia / O seu plano funerário...

Fonte: O POVO, de 18/05/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.

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