segunda-feira, 22 de julho de 2024

CUIDAR DA SANTA CASA, CUIDAR DE NÓS

Por Marcelo Alcântara Holanda (*)

Em 1498, Dona Leonor de Avis, rainha de Portugal, criava a Santa Casa de Lisboa. Integrando a nobreza à assistência aos humildes destacava-se pela assistência aos negros, soldados, presos, mulheres e crianças rejeitadas pela sociedade. Dezenas de Santas Casas surgiram no Brasil colônia, depois no império e finalmente, na República. Tornaram-se incubadoras dos primeiros cursos de Medicina e da rede hospitalar do Sistema Único de Saúde (SUS). Com 163 anos, a Santa Casa de Fortaleza passou por ciclos de prosperidade e de dificuldades, reinventando-se sempre.

Minha formação médica foi por ela marcada, gratidão eterna. Mês passado completei seis meses à frente da novíssima Diretoria de Inovação, atendendo ao chamado do provedor Vladimir Spinelli. Missão nobre, desafios gigantes, começando por diagnóstico e redesenho institucional, visando à sua sustentabilidade, mantendo intocável o propósito da caridade. Entidade filantrópica, 95% dos serviços são vinculados ao SUS, sendo capaz de realizar até 50 cirurgias por dia, contando com mais de 200 leitos para assistência de qualidade aos pacientes.

Infelizmente, por insuficiência financeira crônica e ora agudizada, as cirurgias pelo SUS estão próximas a zero. Temos recebido apoio por meio de emendas parlamentares estaduais e a Secretaria Estadual de Saúde tem sinalizado a perspectiva de novos contratos. Há cerca de um mês, o prefeito da Capital nos recebeu no Paço Municipal e acenou com maior agilidade no repasse de recursos devidos pelo SUS. Somadas a doações e parcerias com a sociedade, tais iniciativas são importantes, mas insuficientes.

A questão financeira se impõe, gerando risco iminente de interrupção das atividades assistenciais. Mesmo assim, a instituição tem trabalhado por sua revitalização e modernização e assim, endereço dois pedidos. Aos gestores municipal e estadual, ações concretas de suporte no curtíssimo prazo. À sociedade, todo o apoio possível dentro do espírito solidário e cristão da irmandade. Cuidemos da Santinha para cuidar de nós.

(*) Médico pneumologista intensivista. Professor associado da UFC.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/06/2024. Opinião. p.19.

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