Por Marcelo Alcântara Holanda (*)
Em 1498, Dona Leonor de
Avis, rainha de Portugal, criava a Santa Casa de Lisboa. Integrando a nobreza à
assistência aos humildes destacava-se pela assistência aos negros, soldados,
presos, mulheres e crianças rejeitadas pela sociedade. Dezenas de Santas Casas
surgiram no Brasil colônia, depois no império e finalmente, na República.
Tornaram-se incubadoras dos primeiros cursos de Medicina e da rede hospitalar
do Sistema Único de Saúde (SUS). Com 163 anos, a Santa Casa de Fortaleza
passou por ciclos de prosperidade e de dificuldades, reinventando-se sempre.
Minha formação médica
foi por ela marcada, gratidão eterna. Mês passado completei seis meses à frente
da novíssima Diretoria de Inovação, atendendo ao chamado do provedor Vladimir
Spinelli. Missão nobre, desafios gigantes, começando por diagnóstico e redesenho
institucional, visando à sua sustentabilidade, mantendo intocável o propósito
da caridade. Entidade filantrópica, 95% dos serviços são vinculados ao SUS,
sendo capaz de realizar até 50 cirurgias por dia, contando com mais de 200
leitos para assistência de qualidade aos pacientes.
Infelizmente, por
insuficiência financeira crônica e ora agudizada, as cirurgias pelo SUS estão
próximas a zero. Temos recebido apoio por meio de emendas parlamentares
estaduais e a Secretaria Estadual de Saúde tem sinalizado a perspectiva de
novos contratos. Há cerca de um mês, o prefeito da Capital nos recebeu no Paço
Municipal e acenou com maior agilidade no repasse de recursos devidos pelo SUS.
Somadas a doações e parcerias com a sociedade, tais iniciativas são
importantes, mas insuficientes.
A questão financeira se
impõe, gerando risco iminente de interrupção das atividades assistenciais.
Mesmo assim, a instituição tem trabalhado por sua revitalização e modernização
e assim, endereço dois pedidos. Aos gestores municipal e estadual, ações concretas
de suporte no curtíssimo prazo. À sociedade, todo o apoio possível dentro do
espírito solidário e cristão da irmandade. Cuidemos da Santinha para cuidar de
nós.
(*) Médico
pneumologista intensivista. Professor associado da UFC.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 27/06/2024. Opinião. p.19.
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