sexta-feira, 2 de agosto de 2024

E A SAÚDE DAS CRIANÇAS?

Por Valdester Cavalcante Pinto Jr. (*)

A morbidade e a mortalidade infantil, de há muito, constituem preocupação para a comunidade da saúde. Esforços resultaram em progresso, com estimativas globais de mortalidade de menores de 5 anos, tendo diminuído de 12,8 milhões, em 1990, para, aproximadamente, 5,0 milhões, em 2021.

Embora com dados encorajadores, a estatística da mortalidade infantil concentra-se, desproporcionalmente, entre as crianças das populações mais desfavorecidas em todos os países, e se prevê que os Estados-Membros da OMS não alcancem a meta de eliminá-la, como evitável em crianças menores de 5 anos, até 2030.

Evidentemente, para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sejam alcançados em todo o mundo, a atenção à equidade não há de ser esquecida.

Problemas de saúde que exigem cirurgia são amplamente estruturais em crianças. As três anomalias congênitas graves, mais comuns - anomalias cardíacas, defeitos do tubo neural e síndrome de Down – exigem tratamento cirúrgico na totalidade ou por associação.

Estima-se, no entanto, que 1,75 bilhão de crianças, 87% das quais vivem em países de baixa e média renda, não tenham acesso a cuidados operatórios seguros, tornando a área cirúrgica pediátrica uma das mais negligenciadas e subfinanciadas da saúde infantil.

Condições cirúrgicas pediátricas não tratadas, também, resultam em grandes perdas econômicas. Uma criança que não recebe tratamento cirúrgico oportuno para seu defeito do tubo neural tem alta probabilidade de deficiência de locomoção e enfrenta muitos anos evitáveis, ??vividos com a doença. Do mesmo modo, aquelas com cardiopatias congênitas têm as vidas abreviadas e ou limitações cardiopulmonares não reversíveis.

Se o acesso insuficiente aos cuidados cirúrgicos constitui um problema de 12,3 bilhões de dólares americanos, que afeta em grande parte as crianças, e as convenções políticas internacionais aludem, com frequência, à necessidade de dar prioridade a esse contingente, por que o atendimento cirúrgico pediátrico não é apoiado como um bom investimento em saúde pública?

Reflexão sobre o artigo: Karel-Bart Celie. The importance of global bioethics to paediatric health care. The Lancet Child & Adolescent Health.2024. 8(5)

(*) Médico cirurgião cardiovascular pediátrico.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/07/2024. Opinião. p.20.

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