quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Maria está morta ou não? Vamos esclarecer.

Foto: Pintura de Caravaggio – Morte da Virgem

Por Alberto Maggi (*)

O que aconteceu com Maria? A última notícia certa é que ela fez parte da comunidade originária dos crentes de Jerusalém, então nada mais se sabe sobre ela, a sua vida e sobretudo o seu fim.

Na Igreja sempre houve uma reticência tão embaraçosa quanto ao seu fim, ninguém jamais se atreveu a falar aberta e claramente sobre a sua morte, e mesmo nos documentos do Concílio Vaticano II, foram realizadas acrobacias literárias para não afirmar claramente que Maria está morta e usou a fórmula “o curso de sua vida terrena terminou” (LG 59). A relutância em falar da morte de Maria deve-se à evidente contradição do seu fim com a doutrina do pecado original, pecado do qual Nossa Senhora foi preservada. Se a morte entrou no mundo por causa do pecado original, a Imaculada Conceição foi isenta dela e por isso não pode morrer, mesmo que não esteja claro então por que Jesus, Filho de Deus, sem pecado, morreu então.

A Igreja preferiu celebrar o fim de Maria com a festa da Dormição, nome que a partir do século VII, a mando do Papa Sérgio I, mudou no Ocidente para Assunção. Ambas as definições pretendiam afirmar a mesma verdade: a morte não interrompeu o curso da existência de Maria que continua a viver na plenitude da dimensão divina. Tanto uma como a outra imagem não descrevem uma conclusão extraordinária da vida de Nossa Senhora, mas a conclusão normal de uma vida extraordinária, não um privilégio, mas uma possibilidade para todos os crentes.

Mas nem no Oriente nem no Ocidente se reconheceu abertamente que Maria estava morta.

Foi preciso João Paulo II que, na audiência de 25 de junho de 1997, dissesse claramente, e foi a primeira vez na Igreja, que Nossa Senhora estava morta: “É possível que Maria de Nazaré tenha vivido o drama da morte na sua carne? Refletindo sobre o destino de Maria e a sua relação com o Filho divino, parece legítimo responder afirmativamente: uma vez que Cristo morreu, seria difícil manter o contrário para a Mãe».

Na Igreja Oriental floresceram cerca de vinte histórias populares sobre o fim de Nossa Senhora, conhecidas como "Transitus Mariae", em todas elas o fato comum é que Maria morreu de morte natural e foi sepultada e seu túmulo desde o século II foi venerado como um santuário.

João Paulo II conclui o seu discurso afirmando que “a experiência da morte enriqueceu a pessoa da Virgem”, confirmando que morrer não é uma perda, mas um ganho.

Segundo alguns Padres da Igreja, o próprio Jesus foi acolher a sua mãe no momento da morte, como Deus fez com Moisés, transformando o acontecimento doloroso num evento glorioso, e Maria morreu "com o rosto sorridente voltado para o Senhor", e "O Senhor, ele a abraçou, ele levou sua alma santa." (de A ÚLTIMA BEATITUDE, Garzanti)

(*) Teólogo italiano.

Fonte: Grupo de WhatsApp da SMSL de 15/08/2024.


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