Foto: Pintura de Caravaggio – Morte da Virgem
Por Alberto Maggi (*)
O que aconteceu com Maria? A última notícia certa é que ela fez
parte da comunidade originária dos crentes de Jerusalém, então nada mais se
sabe sobre ela, a sua vida e sobretudo o seu fim.
Na Igreja sempre houve uma reticência tão embaraçosa quanto ao
seu fim, ninguém jamais se atreveu a falar aberta e claramente sobre a sua
morte, e mesmo nos documentos do Concílio Vaticano II, foram realizadas
acrobacias literárias para não afirmar claramente que Maria está morta e usou a
fórmula “o curso de sua vida terrena terminou” (LG 59). A relutância em falar
da morte de Maria deve-se à evidente contradição do seu fim com a doutrina do
pecado original, pecado do qual Nossa Senhora foi preservada. Se a morte entrou
no mundo por causa do pecado original, a Imaculada Conceição foi isenta dela e
por isso não pode morrer, mesmo que não esteja claro então por que Jesus, Filho
de Deus, sem pecado, morreu então.
A Igreja preferiu celebrar o fim de Maria com a festa da
Dormição, nome que a partir do século VII, a mando do Papa Sérgio I, mudou no
Ocidente para Assunção. Ambas as definições pretendiam afirmar a mesma verdade:
a morte não interrompeu o curso da existência de Maria que continua a viver na
plenitude da dimensão divina. Tanto uma como a outra imagem não descrevem uma
conclusão extraordinária da vida de Nossa Senhora, mas a conclusão normal de
uma vida extraordinária, não um privilégio, mas uma possibilidade para todos os
crentes.
Mas nem no Oriente nem no Ocidente se reconheceu abertamente que
Maria estava morta.
Foi preciso João Paulo II que, na audiência de 25 de junho de
1997, dissesse claramente, e foi a primeira vez na Igreja, que Nossa Senhora
estava morta: “É possível que Maria de Nazaré tenha vivido o drama da morte na sua
carne? Refletindo sobre o destino de Maria e a sua relação com o Filho divino,
parece legítimo responder afirmativamente: uma vez que Cristo morreu, seria
difícil manter o contrário para a Mãe».
Na Igreja Oriental floresceram cerca de vinte histórias
populares sobre o fim de Nossa Senhora, conhecidas como "Transitus
Mariae", em todas elas o fato comum é que Maria morreu de morte
natural e foi sepultada e seu túmulo desde o século II foi venerado como um
santuário.
João Paulo II conclui o seu discurso afirmando que “a
experiência da morte enriqueceu a pessoa da Virgem”, confirmando que morrer não
é uma perda, mas um ganho.
Segundo alguns Padres da Igreja, o próprio Jesus foi acolher a
sua mãe no momento da morte, como Deus fez com Moisés, transformando o
acontecimento doloroso num evento glorioso, e Maria morreu "com o
rosto sorridente voltado para o Senhor", e "O
Senhor, ele a abraçou, ele levou sua alma santa." (de A ÚLTIMA
BEATITUDE, Garzanti)
(*) Teólogo italiano.
Fonte: Grupo de
WhatsApp da SMSL de 15/08/2024.
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