sábado, 10 de agosto de 2024

Não dá para viver sem Chico, sem Jobim

Por Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)

Tenho conversado com amigos, aqueles que pensam, que são livres no pensamento e não me reprimem nos meus sonhos.

Falam-me sobre seu dia, sobre seus medos, sobre suas dúvidas de um tempo que não insistimos em entender. Sobre um governo anacrônico, a ausência de lideranças, o mundo cada vez mais fechado, agravando os conflitos.

Foi assim que amanheci, sem pudor e sem desvios. Eis que surgi em poesia-onde foi o tempo que eu esperava a noite, quando escrevia fantasias? As emoções ainda reverberam em cada letra, em cada palavra escrita. Era uma eternidade, paixão, afeto, música e poesia.

Era um tempo criança que cria no futuro, sem determinismos e manipulações. A economia vinha depois da música e da sedução, do simplesmente crer.

Não me acostumei a viver assim, sem melodia, sem samba, sem bossa, sem Chico, sem Noel, sem Jobim, sem carinho e sem ideais. Não há nem mesmo as falsas baianas, resta-nos os sem ginga, sem morro e sem alegria.

E assistir os pseudo futuros, as previsões de quem nem canta, nem nada. Quando não encantam, é que não contam que desatinam sem rumo, sem charme.

Assim, sem jeito, presto-me a descrever o passado por pura fantasia e por ainda ver ideologia. Por andar pelas ruas e lembrar dos detalhes, de cada marca da cidade que assiste a negação do seu passado.

Aliás, esquecer as memórias em nada contribui, faz-nos somente sentir tudo sozinho.

Que se faça verdade a letra e, então, a música leve-me a lua, em outras palavras encha-me de melodia e de primaveras.

Quando eu já não tolerar as ausências, que venham as lembranças, para ficar pertinho, bem junto da harmonia, do samba, da nossa identidade.

Quando vier novamente quero estar por perto, mas sem tirar os olhos da sintonia...para nascer sempre, de qualquer forma, em qualquer lugar, com charme e melodia.

Não pode mais passar um tempo assim, sem um só momento de ternura. Como é triste quem não tem razão para chorar.

Mesmo assim é melhor ser inocente que ser triste. É melhor perder do que desconfiar e é melhor ceder do que ganhar.

Então, " Não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar quando eu já não puder pisar mais na avenida"

E assim o inverno já se foi....

(*) Médico. Professor da UFC. Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/07/2024. Opinião. p.17.

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