Por Carlos Roberto Martins
Rodrigues Sobrinho (Doutor Cabeto) (*)
Tenho conversado com
amigos, aqueles que pensam, que são livres no pensamento e não me reprimem nos
meus sonhos.
Falam-me sobre seu dia,
sobre seus medos, sobre suas dúvidas de um tempo que não insistimos em
entender. Sobre um governo anacrônico, a ausência de lideranças, o mundo cada
vez mais fechado, agravando os conflitos.
Foi assim que amanheci,
sem pudor e sem desvios. Eis que surgi em poesia-onde foi o tempo que eu
esperava a noite, quando escrevia fantasias? As emoções ainda reverberam em
cada letra, em cada palavra escrita. Era uma eternidade, paixão, afeto, música
e poesia.
Era um tempo criança que
cria no futuro, sem determinismos e manipulações. A economia vinha depois da
música e da sedução, do simplesmente crer.
Não me acostumei a viver
assim, sem melodia, sem samba, sem bossa, sem Chico, sem Noel, sem Jobim, sem
carinho e sem ideais. Não há nem mesmo as falsas baianas, resta-nos os sem
ginga, sem morro e sem alegria.
E assistir os pseudo
futuros, as previsões de quem nem canta, nem nada. Quando não encantam, é que
não contam que desatinam sem rumo, sem charme.
Assim, sem jeito,
presto-me a descrever o passado por pura fantasia e por ainda ver ideologia.
Por andar pelas ruas e lembrar dos detalhes, de cada marca da cidade que
assiste a negação do seu passado.
Aliás, esquecer as
memórias em nada contribui, faz-nos somente sentir tudo sozinho.
Que se faça verdade a
letra e, então, a música leve-me a lua, em outras palavras encha-me de melodia
e de primaveras.
Quando eu já não tolerar
as ausências, que venham as lembranças, para ficar pertinho, bem junto da
harmonia, do samba, da nossa identidade.
Quando vier novamente
quero estar por perto, mas sem tirar os olhos da sintonia...para nascer sempre,
de qualquer forma, em qualquer lugar, com charme e melodia.
Não pode mais passar um
tempo assim, sem um só momento de ternura. Como é triste quem não tem razão
para chorar.
Mesmo assim é melhor ser
inocente que ser triste. É melhor perder do que desconfiar e é melhor ceder do
que ganhar.
Então, " Não deixe
o samba morrer, não deixe o samba acabar quando eu já não puder pisar mais na
avenida"
E assim o inverno já se
foi....
(*) Médico. Professor da UFC.
Ex-Secretário Estadual de Saúde do Ceará.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 13/07/2024. Opinião. p.17.
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