quarta-feira, 21 de agosto de 2024

SUPERFICIALIDADE DA INFORMAÇÃO NA SAÚDE

Por Álvaro Madeira Neto (*)

Vivemos em uma era de paradoxos. Por um lado, temos o mundo ao alcance dos dedos, com mais informações do que jamais poderíamos consumir. Por outro, apesar dessa abundância, a profundidade do nosso entendimento parece cada vez mais rasa. A superficialidade da informação se tornou uma preocupação crescente, especialmente por seu impacto na saúde mental e no bem-estar da sociedade.

Estamos navegando em um oceano de dados, onde distinguir o essencial do supérfluo é uma tarefa árdua. Essa sobrecarga informativa nos empurra para um processamento superficial, onde a quantidade de conteúdo que passa pelos nossos olhos supera, e muito, o que realmente compreendemos e absorvemos.

Em um cenário onde as redes sociais competem pelo nosso tempo de atenção com conteúdos rápidos e estimulantes, acabamos sacrificando a reflexão e análise mais profundas.

Esse não é apenas um desafio para nossa gestão de tempo ou eficiência cognitiva; trata-se de uma questão de saúde pública. Os efeitos dessa sobrecarga são palpáveis: ansiedade, dificuldade de concentração e uma menor capacidade de pensar de forma crítica e profunda. Este estado de constante bombardeio informativo nos leva ao paradoxo da escolha, onde, apesar de termos acesso a tantas informações, nos sentimos paralisados e incapazes de tomar decisões claras e fundamentadas.

Mais alarmante ainda é como esse ambiente afeta o discurso público, especialmente em um ano de eleições municipais. A manutenção e o aprofundamento dos valores democráticos e inclusivos do nosso Sistema Único de Saúde dependem de debates ricos e fundamentados. A superficialidade não tem lugar quando o que está em jogo é o futuro da saúde coletiva e da democracia.

Portanto, a necessidade de ultrapassar a superficialidade informativa é ainda mais premente. A qualidade do debate público, a saúde da democracia e o futuro do SUS dependem de um engajamento informado, crítico e profundo por parte de todos. Através de um esforço coletivo, podemos mitigar os efeitos adversos desse fenômeno e construir uma sociedade mais informada, inclusiva saudável e democrática.

(*) Médico e gestor em saúde. Sócio da Sobrames/CE

Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/08/2024. Opinião. p.18.

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