Por Álvaro Madeira Neto (*)
Vivemos em uma era de
paradoxos. Por um lado, temos o mundo ao alcance dos dedos, com mais
informações do que jamais poderíamos consumir. Por outro, apesar dessa
abundância, a profundidade do nosso entendimento parece cada vez mais rasa. A
superficialidade da informação se tornou uma preocupação crescente,
especialmente por seu impacto na saúde mental e no bem-estar da sociedade.
Estamos navegando em um
oceano de dados, onde distinguir o essencial do supérfluo é uma tarefa árdua.
Essa sobrecarga informativa nos empurra para um processamento superficial, onde
a quantidade de conteúdo que passa pelos nossos olhos supera, e muito, o que
realmente compreendemos e absorvemos.
Em um cenário onde as redes
sociais competem pelo nosso tempo de atenção com conteúdos rápidos e
estimulantes, acabamos sacrificando a reflexão e análise mais profundas.
Esse não é apenas um
desafio para nossa gestão de tempo ou eficiência cognitiva; trata-se de
uma questão de saúde pública. Os efeitos dessa sobrecarga são palpáveis:
ansiedade, dificuldade de concentração e uma menor capacidade de pensar de
forma crítica e profunda. Este estado de constante bombardeio informativo nos
leva ao paradoxo da escolha, onde, apesar de termos acesso a tantas
informações, nos sentimos paralisados e incapazes de tomar decisões claras e
fundamentadas.
Mais alarmante ainda é
como esse ambiente afeta o discurso público, especialmente em um ano de
eleições municipais. A manutenção e o aprofundamento dos valores
democráticos e inclusivos do nosso Sistema Único de Saúde dependem de debates
ricos e fundamentados. A superficialidade não tem lugar quando o que está em
jogo é o futuro da saúde coletiva e da democracia.
Portanto, a necessidade
de ultrapassar a superficialidade informativa é ainda mais premente. A
qualidade do debate público, a saúde da democracia e o futuro do SUS dependem
de um engajamento informado, crítico e profundo por parte de todos. Através de
um esforço coletivo, podemos mitigar os efeitos adversos desse fenômeno e
construir uma sociedade mais informada, inclusiva saudável e democrática.
(*) Médico e gestor em saúde. Sócio da
Sobrames/CE
Fonte: Publicado In: O Povo, de 2/08/2024. Opinião. p.18.
Nenhum comentário:
Postar um comentário