sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Crônica: “Ladrão rouba celular e aplica dedada na vítima” ... e outro causo

Ladrão rouba celular e aplica dedada na vítima

Seria essa, sem dúvida, a manchete mais apropriada do jornal sensacionalista diante do infausto ocorrido com o cordato amigo Didi, em São Gerardo, mês passado. Graças a Deus ele tá vivo pra contar (e contou-nos bastante feliz) a história aqui narrada.

Era por volta de 21 horas de uma festiva sexta-feira, quando ele desceu do muitíssimo lotado Conjunto Ceará-Aldeota, na parada de ônibus da Igreja de São Gerardo. Feliz, atravessou a Av. Bezerra de Menezes e seguiu assoviando pela Rua Conselheiro Vieira da Silva, crente que em cinco minutos chegaria à bodega da dona Fátima, onde tomaria com colegas papudinhos a sua merecida Brahmosa.

E lá vinha ele andando, despreocupado, satisfeito. Não mais que de repente, surgem-lhe à frente dois meliantes com cara de quem ali se encontravam para um tudo ou nada. "Um deles tinha o cabelo ensebado!", informou dias depois. Cano do 38 encostado com força no quengo de Didi, a secular intimação em lance de extrema velocidade:

- A carteira e o celular, vagabundo!!!

Celular e carteira já na mão de um dos assaltantes, o inusitado: bandido (o do cabelo ensebado), do nada, sem ver de quê, lasca uma senhora dedada na vítima, agora estático, zuruó do juízo. "E o fí duma égua inda ficou se abrindo da arrumação que fez nim mim!". Didi sem reação, de olhos fechados, achando que é o fim de tudo. Súbito, o insulto:

- Achou ruim? - perguntou o ladrão do cabelo ensebado.

- Claro que não!!! - Didi respondeu.

Isto feito, a dupla se manda em busca do Otávio Bonfim. Ali, um Dini sem carteira, sem celular, sem noção das coisas, sem força pra ir à dona Fátima tomar a sua gelada cerveja. Tão só largou a cena do crime, à altura do número 800 da Conselheiro e foi direto pra casa. Abraçou a mulher e, um tanto envergonhado, contou o incidente; com o devido pudor, fala inclusive do infeliz episódio da dedada.

- Mas, graças a Deus restei vivo, meu amor!

Didi não esperava que a mulher queimasse ruim ao saber do ato de "meter o dedo médio (fura-bolo) em quaisquer das partes pudendas do outro/outra, independente da intenção" contra ele perpetrado. Falou alto.

- E vai ficar por isso mesmo, Didi?

- Mulher, foram só prejuízos materiais!

- E a desonra da dedada?

- Meu amor, que diabo é uma dedadinha véa de nada na frente dum tiro na cabeça!?!

- Conversa é essa?!?

- É porque não foi em ti!!!

- Pois se a dedada fosse na minha singularíssima pessoa, esse ladrão ia ver o que era bom pra tosse!

- Duvido!

- Pois vamos voltar na Conselheiro Vieira da Silva e encontrar ele! Bora!

Mútuos interesses

Dona Fátima se engraçou do Luiz por achar que ele tinha dinheiro, fosse laborioso. Ele por ela se apaixonou, pensando igualmente assim. Se amigaram, tem já cinco anos. Enfim, a descoberta, da parte dela, mulher trabalhadeira, que seu homem é avesso ao batente. Enquanto ela toma de conta da bodega, pra lá e pra cá nas mesas dos clientes, Luiz se encosta na caixa de som e dorme e ronca. Dona Fátima não aguenta mais.

- Acorda, Luiz! E saber que eu me amancebei contigo pensando que fosse trabalhador!

Acordando do susto, Luiz responde à altura:

- Eu também!!!

Fonte: O POVO, de 9/08/2024. Coluna “Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.


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