Ladrão rouba celular e aplica
dedada na vítima
Seria
essa, sem dúvida, a manchete mais apropriada do jornal sensacionalista diante
do infausto ocorrido com o cordato amigo Didi, em São Gerardo, mês passado.
Graças a Deus ele tá vivo pra contar (e contou-nos bastante feliz) a história
aqui narrada.
Era
por volta de 21 horas de uma festiva sexta-feira, quando ele desceu do
muitíssimo lotado Conjunto Ceará-Aldeota, na parada de ônibus da Igreja de São
Gerardo. Feliz, atravessou a Av. Bezerra de Menezes e seguiu assoviando pela
Rua Conselheiro Vieira da Silva, crente que em cinco minutos chegaria à bodega
da dona Fátima, onde tomaria com colegas papudinhos a sua merecida Brahmosa.
E
lá vinha ele andando, despreocupado, satisfeito. Não mais que de repente,
surgem-lhe à frente dois meliantes com cara de quem ali se encontravam para um
tudo ou nada. "Um deles tinha o cabelo ensebado!", informou dias
depois. Cano do 38 encostado com força no quengo de Didi, a secular intimação
em lance de extrema velocidade:
-
A carteira e o celular, vagabundo!!!
Celular
e carteira já na mão de um dos assaltantes, o inusitado: bandido (o do cabelo
ensebado), do nada, sem ver de quê, lasca uma senhora dedada na vítima, agora
estático, zuruó do juízo. "E o fí duma égua inda ficou se abrindo da
arrumação que fez nim mim!". Didi sem reação, de olhos fechados, achando
que é o fim de tudo. Súbito, o insulto:
-
Achou ruim? - perguntou o ladrão do cabelo ensebado.
-
Claro que não!!! - Didi respondeu.
Isto
feito, a dupla se manda em busca do Otávio Bonfim. Ali, um Dini sem carteira,
sem celular, sem noção das coisas, sem força pra ir à dona Fátima tomar a sua
gelada cerveja. Tão só largou a cena do crime, à altura do número 800 da
Conselheiro e foi direto pra casa. Abraçou a mulher e, um tanto envergonhado,
contou o incidente; com o devido pudor, fala inclusive do infeliz episódio da
dedada.
-
Mas, graças a Deus restei vivo, meu amor!
Didi
não esperava que a mulher queimasse ruim ao saber do ato de "meter o dedo
médio (fura-bolo) em quaisquer das partes pudendas do outro/outra, independente
da intenção" contra ele perpetrado. Falou alto.
-
E vai ficar por isso mesmo, Didi?
-
Mulher, foram só prejuízos materiais!
-
E a desonra da dedada?
-
Meu amor, que diabo é uma dedadinha véa de nada na frente dum tiro na cabeça!?!
-
Conversa é essa?!?
-
É porque não foi em ti!!!
-
Pois se a dedada fosse na minha singularíssima pessoa, esse ladrão ia ver o que
era bom pra tosse!
-
Duvido!
-
Pois vamos voltar na Conselheiro Vieira da Silva e encontrar ele! Bora!
Mútuos interesses
Dona
Fátima se engraçou do Luiz por achar que ele tinha dinheiro, fosse laborioso.
Ele por ela se apaixonou, pensando igualmente assim. Se amigaram, tem já cinco
anos. Enfim, a descoberta, da parte dela, mulher trabalhadeira, que seu homem é
avesso ao batente. Enquanto ela toma de conta da bodega, pra lá e pra cá nas
mesas dos clientes, Luiz se encosta na caixa de som e dorme e ronca. Dona
Fátima não aguenta mais.
-
Acorda, Luiz! E saber que eu me amancebei contigo pensando que fosse
trabalhador!
Acordando
do susto, Luiz responde à altura:
-
Eu também!!!
Fonte: O POVO, de 9/08/2024. Coluna
“Crônicas”, de Tarcísio Matos. p.2.
Nenhum comentário:
Postar um comentário