quarta-feira, 18 de setembro de 2024

OLÍMPICAS

Por Romeu Duarte Junior (*)

Quem me conhece sabe que não tenho grande apreço pelas Olimpíadas. Aquele negócio de correr, pular, nadar, remar e um longo rol de etceteras esportivos me deixam extenuado. Aliás, até da Copa do Mundo tenho tido abuso, principalmente depois de 22 anos sem títulos e dos últimos tenebrosos resultados. Contudo, e de forma surpreendente para mim, acompanhei com muito interesse a Olimpíada de Paris, que terminou ontem. Impressionaram-me as atuações das nossas mulheres douradas, Bia, Duda, Ana Patrícia e Rebeca. Gostaria de colocar nesse pódio a seleção de futebol feminino. Entretanto, escrevendo no sábado e sem o dom da premonição, fica difícil. Mesmo assim, vale torcer e homenagear quem oferece o sangue pelo país em terra, mar e ar.

Bia Souza, a gigante do judô, simplesmente não tomou conhecimento de sua oponente israelense. Forte e serena, basicamente administrou a luta a seu favor. Como acontece nesse esporte, o lutador sábio usa da força do seu adversário para derrotá-lo. E foi exatamente o que aconteceu: um ippon na hora certa e babau. Ana Patrícia e Duda, no vôlei de praia, ganharam da dupla canadense dando um show de aplicação e intensidade. De nada valeram as mensagens de ódio e desistência dirigidas às duas. A resposta suada foi dada na quadra de areia aos pés da Torre Eiffel. Na torcida, vibrando intensamente, Sandra Pires e a minha heroína Jackie Silva, ouro na modalidade na Olimpíada de Atlanta, em 1996. Saudade da Isabel Salgado, a Isabel do vôlei, magnífica...

Rebeca Andrade é um alado feixe de músculos. Quando perguntada sobre o que passava na sua cabeça antes de entrar nas disputas, disse que estava pensando nas comidas que iria preparar quando voltasse ao Brasil. Lembrei-me de Garrincha, a quem, em 1962, o governador do Rio de Janeiro, Carlos Lacerda, prometeu um mainá caso a seleção brasileira fosse campeã do mundo. No Chile, nosso craque das pernas tortas só pensava no passarinho e não deu outra. Os voos, piruetas, danças e manobras da bela ginasta dizem de alguém que concentra toda a sua atenção e energia no seu mister, que, mais que ganhar medalhas, é transformar o esporte que pratica em obra de arte. Que o diga Simone Biles, com quem comparte o Olimpo da ginástica artística.

Todavia, o que mais me emocionou foi ver, por trás de toda a alegria pelas conquistas, as tremendas dificuldades que se interpuseram nos caminhos delas e os imensos esforços que elas despenderam para superá-las. Pobres, pretas, sofridas, desprezadas, massacradas, nem por isso se curvaram às adversidades. Até os nelsonrodrigueanos idiotas da objetividade as caçaram, defendendo a cobrança de impostos sobre os prêmios que ganharam. Ora, que defendam a cobrança de impostos das grandes fortunas do país e não de quem briga pelo Brasil nas canchas! O complexo de vira-lata é o que destrói Pindorama. De resto, fica a certeza de que o esporte salva e transforma vidas. Onde estariam elas se não fossem atletas? É, barão, o importante é competir...

(*) Arquiteto e professor da UFC. Sócio do Instituto do Ceará. Colunista de O Povo.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/08/24. Vida & Arte. p.2.


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