Por
Romeu Duarte Junior (*)
Quem me conhece sabe que não tenho grande apreço pelas Olimpíadas.
Aquele negócio de correr, pular, nadar, remar e um longo rol de etceteras
esportivos me deixam extenuado. Aliás, até da Copa do Mundo tenho tido abuso,
principalmente depois de 22 anos sem títulos e dos últimos tenebrosos
resultados. Contudo, e de forma surpreendente para mim, acompanhei com muito
interesse a Olimpíada de Paris, que terminou ontem. Impressionaram-me as
atuações das nossas mulheres douradas, Bia, Duda, Ana Patrícia e Rebeca. Gostaria
de colocar nesse pódio a seleção de futebol feminino. Entretanto, escrevendo no
sábado e sem o dom da premonição, fica difícil. Mesmo assim, vale torcer e
homenagear quem oferece o sangue pelo país em terra, mar e ar.
Bia Souza, a gigante do judô, simplesmente não tomou conhecimento
de sua oponente israelense. Forte e serena, basicamente administrou a luta a
seu favor. Como acontece nesse esporte, o lutador sábio usa da força do seu
adversário para derrotá-lo. E foi exatamente o que aconteceu: um ippon na hora
certa e babau. Ana Patrícia e Duda, no vôlei de praia, ganharam da dupla
canadense dando um show de aplicação e intensidade. De nada valeram as
mensagens de ódio e desistência dirigidas às duas. A resposta suada foi dada na
quadra de areia aos pés da Torre Eiffel. Na torcida, vibrando intensamente,
Sandra Pires e a minha heroína Jackie Silva, ouro na modalidade na Olimpíada de
Atlanta, em 1996. Saudade da Isabel Salgado, a Isabel do vôlei, magnífica...
Rebeca Andrade é um alado feixe de músculos. Quando perguntada
sobre o que passava na sua cabeça antes de entrar nas disputas, disse que
estava pensando nas comidas que iria preparar quando voltasse ao Brasil.
Lembrei-me de Garrincha, a quem, em 1962, o governador do Rio de Janeiro,
Carlos Lacerda, prometeu um mainá caso a seleção brasileira fosse campeã do
mundo. No Chile, nosso craque das pernas tortas só pensava no passarinho e não
deu outra. Os voos, piruetas, danças e manobras da bela ginasta dizem de alguém
que concentra toda a sua atenção e energia no seu mister, que, mais que ganhar
medalhas, é transformar o esporte que pratica em obra de arte. Que o diga
Simone Biles, com quem comparte o Olimpo da ginástica artística.
Todavia, o que mais me emocionou foi ver, por trás de toda a
alegria pelas conquistas, as tremendas dificuldades que se interpuseram nos
caminhos delas e os imensos esforços que elas despenderam para superá-las.
Pobres, pretas, sofridas, desprezadas, massacradas, nem por isso se curvaram às
adversidades. Até os nelsonrodrigueanos idiotas da objetividade as caçaram,
defendendo a cobrança de impostos sobre os prêmios que ganharam. Ora, que
defendam a cobrança de impostos das grandes fortunas do país e não de quem
briga pelo Brasil nas canchas! O complexo de vira-lata é o que destrói
Pindorama. De resto, fica a certeza de que o esporte salva e transforma vidas.
Onde estariam elas se não fossem atletas? É, barão, o importante é competir...
(*) Arquiteto e
professor da UFC. Sócio do Instituto do Ceará. Colunista de O Povo.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 12/08/24. Vida & Arte. p.2.
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