segunda-feira, 9 de setembro de 2024

SEMPRE HÁ O QUE APRENDER

Por Maximiliano Ponte (*)

Sou um veterano-iniciante no judô. Veterano pela idade. Iniciante pelo pouco tempo de prática. Sou faixa laranja. Para adultos, acima apenas da branca e da amarela. Como iniciante tudo é novidade, fascinante para mim. Como veterano, acabo sendo, talvez, um pouco mais reflexivo com as experiências que adquiro na prática desta arte marcial.

Recentemente participei de um campeonato de judô. As lutas entre atletas veteranos se dão entre pessoas do mesmo sexo, com idade e peso aproximados, independentemente da faixa. Meu oponente foi um faixa preta, com excelente e longo retrospecto de lutas. Fiz com ele duas lutas e perdi ambas. Mas aprendi uma coisa interessante.

Diante de um oponente que consideramos muito mais forte, podemos tender a pensar que seus ataques são muito mais efetivos do que de fato são. Nas duas lutas que fiz, pensei que as quedas que levei no início dos combates haviam sido ippon, o golpe perfeito, que leva ao término imediato da luta. Mas não foram. Em virtude desse erro de percepção, perdi alguns instantes preciosos, demorando a voltar a me defender.

Quando de antemão consideramos o oponente como imbatível, antecipamos nossa derrota. Corremos o risco de vermos todas as suas investidas como perfeitas e fatais. Mas o golpe pode não ter sido tão preciso. Ou pode até ter sido, mas você pode ter subestimado sua capacidade de se defender de um golpe que te levou a queda. É importante sempre lembrar que nem toda queda é uma derrota necessária e imediata. E ainda, mesmo caído, em muitas situações ainda dá para seguir lutando.

Numa primeira versão deste texto, qualifiquei meu oponente de "grande judoca". Um amigo judoca, e psiquiatra como eu, comentou: "você já o chamou de grande judoca, ele está grande na sua mente, não respeite faixa, nem fama". Algo análogo ao ensinamento do senhor Kano, fundador do judô: "Quem teme perder, já está vencido". Assim, meu aprendizado principal foi: o primeiro oponente a ser vencido somos nós mesmos. No tatame ou na vida, cuidado com o que você faz com a valoração que faz do oponente (problema ou desafio) e foque nas suas estratégias de enfrentamento. Do contrário, poderá sentir, como eu senti, todos os golpes como avassaladores e fatais. Então, respeitosamente, não respeite (no sentido de "não se apequene ante") seu oponente.

(*) Médico psiquiatra e judoca.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/08/2024. Opinião. p.19.

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