Por
Maximiliano
Ponte (*)
Sou um
veterano-iniciante no judô. Veterano pela idade. Iniciante pelo pouco tempo de
prática. Sou faixa laranja. Para adultos, acima apenas da branca e da amarela.
Como iniciante tudo é novidade, fascinante para mim. Como veterano, acabo
sendo, talvez, um pouco mais reflexivo com as experiências que adquiro na
prática desta arte marcial.
Recentemente participei
de um campeonato de judô. As lutas entre atletas veteranos se dão entre pessoas
do mesmo sexo, com idade e peso aproximados, independentemente da faixa. Meu
oponente foi um faixa preta, com excelente e longo retrospecto de lutas. Fiz
com ele duas lutas e perdi ambas. Mas aprendi uma coisa interessante.
Diante de um oponente
que consideramos muito mais forte, podemos tender a pensar que seus ataques são
muito mais efetivos do que de fato são. Nas duas lutas que fiz, pensei que as
quedas que levei no início dos combates haviam sido ippon, o golpe perfeito,
que leva ao término imediato da luta. Mas não foram. Em virtude desse erro de
percepção, perdi alguns instantes preciosos, demorando a voltar a me defender.
Quando de antemão
consideramos o oponente como imbatível, antecipamos nossa derrota. Corremos o
risco de vermos todas as suas investidas como perfeitas e fatais. Mas o golpe
pode não ter sido tão preciso. Ou pode até ter sido, mas você pode ter
subestimado sua capacidade de se defender de um golpe que te levou a queda. É
importante sempre lembrar que nem toda queda é uma derrota necessária e
imediata. E ainda, mesmo caído, em muitas situações ainda dá para seguir
lutando.
Numa primeira versão
deste texto, qualifiquei meu oponente de "grande judoca". Um amigo
judoca, e psiquiatra como eu, comentou: "você já o chamou de grande
judoca, ele está grande na sua mente, não respeite faixa, nem fama". Algo
análogo ao ensinamento do senhor Kano, fundador do judô: "Quem teme
perder, já está vencido". Assim, meu aprendizado principal foi: o primeiro
oponente a ser vencido somos nós mesmos. No tatame ou na vida, cuidado com o
que você faz com a valoração que faz do oponente (problema ou desafio) e foque
nas suas estratégias de enfrentamento. Do contrário, poderá sentir, como eu
senti, todos os golpes como avassaladores e fatais. Então, respeitosamente, não
respeite (no sentido de "não se apequene ante") seu oponente.
(*) Médico
psiquiatra e judoca.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 9/08/2024. Opinião. p.19.
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