Por Tales de Sá Cavalcante (*)
Dizia Genuíno Sales: "Uma coisa é o
que eu faço. Outra coisa é o que nós fazemos." Os primeiros humanos viviam
sob normas obedecidas por serem naturais. A seguir o provérbio latino
"Onde há sociedade, há direito", a Grécia Antiga concluiu que, mesmo
com restrições a estrangeiros, mulheres e escravos, a tomada de decisões pela
coletividade era melhor do que por uma só pessoa.
Posteriormente, Roma criou um modelo
formado por Executivo, Legislativo e Judiciário. Surgia a República
tradicional. Porém, ainda hoje temos autocracias e tentativas de
autoritarismos. Quer seja de esquerda ou de direita, uma ditadura é como um
animal feroz, incontrolável, que, impunemente, pode atacar. Nela, poderosos
agem sem limites, e a sociedade perde seus direitos fundamentais.
Um taxista de Brasília me confidenciou:
"Em 31 de março de 1964, eu aqui estava com 3 colegas, e um soldado
impediu nossa conversa por ser proibida a formação de grupos." Há pouco
tempo, ao saber, pela mídia, que um homem, no Rio de Janeiro, foi a óbito por
pisar sem querer no pé do assassino, lembrei-me de um meme que surgiu na época
do regime militar, portanto presencial. "Em diálogo num ônibus lotado,
dois homens estavam juntos e de pé. O primeiro perguntou ao segundo: 'O senhor
é militar?' Ele respondeu: 'Não.' 'O senhor tem algum parente militar?' 'Não.'
Possui algum amigo militar?' 'Não.' Há algum militar íntimo, seu conhecido?'
'Não.' Então disse o primeiro: 'Nesse caso, o senhor poderia tirar o seu pé de
cima do meu?'"
A obra cinematográfica “Ainda Estou Aqui”
mostra, com impressionante sutileza e profundidade, num período de arbítrio, o
drama de uma família brasileira a enfrentar dores que levaram o ator Selton
Mello a dizer: "O filme é o corpo do Rubens, que nunca foi
encontrado." Mesmo que não ganhem os prêmios, as 3 indicações ao Oscar já
são uma vitória do Brasil, de Fernanda Torres, Walter Salles e seus
companheiros de trabalho. No próximo 2 de março, em clima de Copa do Mundo,
torçamos e demonstremos que ainda estamos aqui, na esperança de que o planeta
reconheça a excelência brasileira também nas artes.
(*) Reitor do FB UNI e
Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia
Cearense de Letras.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/02/25. Opinião, p.14.
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