quarta-feira, 5 de março de 2025

AINDA ESTAMOS AQUI

Por Tales de Sá Cavalcante (*)

Dizia Genuíno Sales: "Uma coisa é o que eu faço. Outra coisa é o que nós fazemos." Os primeiros humanos viviam sob normas obedecidas por serem naturais. A seguir o provérbio latino "Onde há sociedade, há direito", a Grécia Antiga concluiu que, mesmo com restrições a estrangeiros, mulheres e escravos, a tomada de decisões pela coletividade era melhor do que por uma só pessoa.

Posteriormente, Roma criou um modelo formado por Executivo, Legislativo e Judiciário. Surgia a República tradicional. Porém, ainda hoje temos autocracias e tentativas de autoritarismos. Quer seja de esquerda ou de direita, uma ditadura é como um animal feroz, incontrolável, que, impunemente, pode atacar. Nela, poderosos agem sem limites, e a sociedade perde seus direitos fundamentais.

Um taxista de Brasília me confidenciou: "Em 31 de março de 1964, eu aqui estava com 3 colegas, e um soldado impediu nossa conversa por ser proibida a formação de grupos." Há pouco tempo, ao saber, pela mídia, que um homem, no Rio de Janeiro, foi a óbito por pisar sem querer no pé do assassino, lembrei-me de um meme que surgiu na época do regime militar, portanto presencial. "Em diálogo num ônibus lotado, dois homens estavam juntos e de pé. O primeiro perguntou ao segundo: 'O senhor é militar?' Ele respondeu: 'Não.' 'O senhor tem algum parente militar?' 'Não.' Possui algum amigo militar?' 'Não.' Há algum militar íntimo, seu conhecido?' 'Não.' Então disse o primeiro: 'Nesse caso, o senhor poderia tirar o seu pé de cima do meu?'"

A obra cinematográfica “Ainda Estou Aqui” mostra, com impressionante sutileza e profundidade, num período de arbítrio, o drama de uma família brasileira a enfrentar dores que levaram o ator Selton Mello a dizer: "O filme é o corpo do Rubens, que nunca foi encontrado." Mesmo que não ganhem os prêmios, as 3 indicações ao Oscar já são uma vitória do Brasil, de Fernanda Torres, Walter Salles e seus companheiros de trabalho. No próximo 2 de março, em clima de Copa do Mundo, torçamos e demonstremos que ainda estamos aqui, na esperança de que o planeta reconheça a excelência brasileira também nas artes.

(*) Reitor do FB UNI e Dir. Superintendente da Org. Educ. Farias Brito. Presidente da Academia Cearense de Letras.

Fonte: Publicado In: O Povo, de 6/02/25. Opinião, p.14.

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