Por Ricardo
Alcântara (*)
A expansão do espaço de comunicação nas décadas recentes
gerou exigências novas. Ao ocupar cargos públicos, outros atributos, além das
competências inerentes às funções, se tornaram ainda mais relevantes para o êxito
dos gestores.
Regra básica, responsáveis por áreas de maior interesse
público devem saber que comunicação não é o que eles dizem e sim o que nós
entendemos. O secretário de Segurança é bom exemplo de alguém que, calado,
daria melhor contribuição.
Perguntado sobre os motivos por não se refletir nas
estatísticas de criminalidade os altos investimentos em sua pasta, o coronel Francisco Bezerra tem
demonstrado boa disposição para transferir responsabilidades.
Culpa, em primeiro lugar, a Justiça que, segundo ele,
devolve delinquentes às ruas. Quando lembrado de que a maioria deles é de
menores de idade, culpa o Congresso Nacional pela recusa em baixar para
dezesseis anos o limite de maioridade penal.
Tenta outro drible fácil ao minimizar o dano social das
ocorrências: segundo ele, a maioria dos assassinatos ocorre em conflitos entre
traficantes. A omissão policial seria, então, um benefício? Foi como compreendi
as suas, digamos, reflexões.
Ao denunciar como causas profundas da violência a
carência de investimentos em Educação e Emprego, e cobrar iniciativas da
prefeitura municipal, esquece que grande parte dessas responsabilidades compete
também ao poder estadual.
Não mais tendo a quem responsabilizar, recorre ao
catecismo dos desesperados: acusa a imprensa de “requentar o assunto”, como se
a mídia exumasse a cada dia o cadáver da semana passada. Ora, aqui estão
matando gente é toda hora!
Todos concordam com algo que ele tenta dizer, mas não
sabe como. Direi por ele: o problema da violência não é desafio que possa ser
vencido apenas com os recursos do aparelho policial. É certo: a polícia não
pode tudo – mas pode mais, eis o ponto.
Morosidade da Justiça, tráfico de drogas, carências
sociais e sensacionalismo da imprensa são, entre outros, fatores agravantes
admitidos por consenso. O que não soa honesto é querer usá-los como
salvo-condutos para a inoperância. Não cola.
Não cola porque tais fatores afetam também cidades
brasileiras que apresentam, mesmo com populações diversas vezes maior do que Fortaleza,
estatísticas bem melhores – em alguns itens, até em números absolutos – do que
a capital cearense.
Ao recusar-se a qualquer avaliação crítica, ainda que
pontual, sobre o desempenho de sua pasta, o secretário insinua – e só não o
afirma de todo porque pressente a inconsistência da mensagem – que o governo
está fazendo a sua parte. Não está.
E é muito grave que, diante de um quadro tão crítico, e
numa área que afeta as famílias de maneira tão dramática, o responsável pelas
ações centrais se mostre tão incapaz de se submeter às exigências inerentes à
sua própria liderança.
Talvez o secretário de Segurança não esteja percebendo,
mas o que ele está dizendo para a sociedade, já que nunca se investiu tanto em
segurança como agora e nunca os resultados foram tão ruins, é que a guerra
contra o crime está perdida.
Sua mensagem é um ato de desmobilização moral dos
eventuais esforços de aprimoramento, injeta uma ainda maior sensação de
insegurança na população e oferece aos delituosos o estímulo de sua rendição
antecipada.
Uma modesta contribuição, secretário: faria bem à alma
dos cearenses ouvir um diagnóstico das vulnerabilidades do aparato e o que
pretende fazer seu comando para superar deficiências e melhorar o desempenho.
Numa palavra: providências.
Quer ver como funciona? Manda a assembleia governista
aprovar limite de horário para locais onde há venda de bebida alcoólica (de
segunda a quinta, pelo menos) e bota a polícia para coibir a venda aos menores
de idade. Enfim, providências...
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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