quinta-feira, 28 de março de 2013

Providências. Apenas providências.



Por Ricardo Alcântara (*)
A expansão do espaço de comunicação nas décadas recentes gerou exigências novas. Ao ocupar cargos públicos, outros atributos, além das competências inerentes às funções, se tornaram ainda mais relevantes para o êxito dos gestores.
Regra básica, responsáveis por áreas de maior interesse público devem saber que comunicação não é o que eles dizem e sim o que nós entendemos. O secretário de Segurança é bom exemplo de alguém que, calado, daria melhor contribuição.
Perguntado sobre os motivos por não se refletir nas estatísticas de criminalidade os altos investimentos em sua pasta, o coronel Francisco Bezerra tem demonstrado boa disposição para transferir responsabilidades.
Culpa, em primeiro lugar, a Justiça que, segundo ele, devolve delinquentes às ruas. Quando lembrado de que a maioria deles é de menores de idade, culpa o Congresso Nacional pela recusa em baixar para dezesseis anos o limite de maioridade penal.
Tenta outro drible fácil ao minimizar o dano social das ocorrências: segundo ele, a maioria dos assassinatos ocorre em conflitos entre traficantes. A omissão policial seria, então, um benefício? Foi como compreendi as suas, digamos, reflexões.
Ao denunciar como causas profundas da violência a carência de investimentos em Educação e Emprego, e cobrar iniciativas da prefeitura municipal, esquece que grande parte dessas responsabilidades compete também ao poder estadual.
Não mais tendo a quem responsabilizar, recorre ao catecismo dos desesperados: acusa a imprensa de “requentar o assunto”, como se a mídia exumasse a cada dia o cadáver da semana passada. Ora, aqui estão matando gente é toda hora!
Todos concordam com algo que ele tenta dizer, mas não sabe como. Direi por ele: o problema da violência não é desafio que possa ser vencido apenas com os recursos do aparelho policial. É certo: a polícia não pode tudo – mas pode mais, eis o ponto.
Morosidade da Justiça, tráfico de drogas, carências sociais e sensacionalismo da imprensa são, entre outros, fatores agravantes admitidos por consenso. O que não soa honesto é querer usá-los como salvo-condutos para a inoperância. Não cola.
Não cola porque tais fatores afetam também cidades brasileiras que apresentam, mesmo com populações diversas vezes maior do que Fortaleza, estatísticas bem melhores – em alguns itens, até em números absolutos – do que a capital cearense.
Ao recusar-se a qualquer avaliação crítica, ainda que pontual, sobre o desempenho de sua pasta, o secretário insinua – e só não o afirma de todo porque pressente a inconsistência da mensagem – que o governo está fazendo a sua parte. Não está.
E é muito grave que, diante de um quadro tão crítico, e numa área que afeta as famílias de maneira tão dramática, o responsável pelas ações centrais se mostre tão incapaz de se submeter às exigências inerentes à sua própria liderança.
Talvez o secretário de Segurança não esteja percebendo, mas o que ele está dizendo para a sociedade, já que nunca se investiu tanto em segurança como agora e nunca os resultados foram tão ruins, é que a guerra contra o crime está perdida.
Sua mensagem é um ato de desmobilização moral dos eventuais esforços de aprimoramento, injeta uma ainda maior sensação de insegurança na população e oferece aos delituosos o estímulo de sua rendição antecipada.
Uma modesta contribuição, secretário: faria bem à alma dos cearenses ouvir um diagnóstico das vulnerabilidades do aparato e o que pretende fazer seu comando para superar deficiências e melhorar o desempenho. Numa palavra: providências.
Quer ver como funciona? Manda a assembleia governista aprovar limite de horário para locais onde há venda de bebida alcoólica (de segunda a quinta, pelo menos) e bota a polícia para coibir a venda aos menores de idade. Enfim, providências...
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.

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