terça-feira, 21 de maio de 2013

MINHA HISTÓRIA EM FORTALEZA



José Jackson Coelho Sampaio (*)
A Fortaleza de minha infância era o carinho de meus avós maternos, o cheiro do mar, as matinês nos Cines Diogo e São Luiz, o vento da Praça do Ferreira e a trepidante aventura dos ônibus da Itaoca ao Centro. Nasci em Sobral e segui meus pais por Nordeste e Norte, tendo Fortaleza como eixo de peregrinações, estendidas a Crateús, terra de meus pais, onde viviam meus avós paternos.
Aqui descobri a paixão pela leitura, nas prateleiras da Livraria Feira do Livro, negócio iniciado em 1956 pelo tio materno Manoel Raposo. Lembro-me, criança, de festivos lançamentos de livros, prestigiados pelos autores. A alegria de Jorge Amado, a gentileza de Jáder de Carvalho e a sisudez de Sartre estão vivas na memória.
Para estudar no Colégio Lourenço Filho, vim para cá em 1964. Então descobri a política e a repressão, pois Raposo caiu na ilegalidade, devido ao Golpe Militar, depois foi preso e, visitando-o, ouvi falar em Marx, Lenin, Prestes. Meu pai sentiu-me muito afetado por tudo isso e decidiu internar-me no Colégio Marista do Maranhão. Fiz o percurso de minha própria rebelião até obter o retorno para Fortaleza.
De 1966 para cá, exceto pelo tempo em que, no Rio e em Ribeirão Preto, respectivamente, fiz Mestrado e Doutorado em Medicina Social, tenho sido fiel a Fortaleza. Daqui parto para o mundo e para cá volto. Aqui me graduei, casei, tive filhos e netos, amei, sofri, adoeci, sarei, editei a Revista o SACO, participei do Movimento Siriará, atuei na reforma psiquiátrica, poetei, publiquei, tornei-me professor na UECE.
O programa de pós-graduação em saúde pública, a pró-reitoria de pós-graduação e pesquisa, a diretoria do centro de ciências da saúde e, agora, a reitoria, não me tiraram de aulas e pesquisas, mas sim dos cinemas, noites e praias. Meus poemas épicos têm Fortaleza como tema e a cidade, sempre, invade minha vida inteira. Sobretudo quando a olho, larga paisagem iluminada sob os aviões. Que o Farol do Mucuripe, o Theatro José de Alencar e a Iracema Guardiã me protejam.
(*) Professor Titular em Saúde Pública e Reitor da UECE.
Publicado In: O Povo, Opinião.

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