segunda-feira, 20 de maio de 2013

QUALIDADE DOS VESTIBULANDOS À MEDICINA DA UECE



Tem sido crescente a concorrência às quarenta vagas anuais ofertadas para o curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece) – número superior a quatro vezes o da média global do vestibular – conforme pode ser visto nos resultados dos vestibulares, de primeiro semestre, de 2003 a 2013. Nesses onze certames, 296.040 foram inscritos para o total de 21.050 vagas, sendo que 29.220 disputaram as 440 vagas de Medicina, configurando uma concorrência média, por vaga, de 14,06, no geral, e de 66,41, para a Medicina. Na mesma série histórica, enquanto a concorrência global, por vaga, oscila entre 11,23 a 16,13, a da Medicina espelha uma tendência ascendente, cujo pico foi alcançado em 2013, com 84,78.
Além da alta concorrência, a qualidade dos disputantes, principalmente a daqueles aprovados, expõe, claramente, o bom desempenho dos que desejam cursar Medicina na Uece, consoante se demonstra a seguir.
Esse concurso, segue o modelo em duas fases: a primeira, realizada por meio de duas provas, cobrindo matérias e conteúdo do ensino médio, somando 60 questões de múltipla escolha e valendo 120 pontos; e a segunda, composta da redação e de três provas específicas, de acordo com a área da graduação. Para definir os aptos à participação da segunda fase, recorre-se ao ponto de corte de aproveitamento dos candidatos colocados em ordem decrescente de escore da prova geral, até o limite de cinco a seis vezes o número de vagas, respeitando-se as notas empatadas no limiar de acesso.
Com base nesse critério, os pontos de corte (cut-off) mais elevados, dentre todos os cursos, nos onze vestibulares, foram os de Medicina, variando de 98 a 110 pontos, exigindo do vestibulando, no mínimo, de 49 a 55 questões corretas, para tomar parte da segunda etapa. À guisa de exemplo, dos 29.685 inscritos no último vestibular (2013.1), apenas 393 (1,32%) obtiveram o cut-off da Medicina (nota mínima 98), dos quais 314 (79,90%) eram parte dos 3.391 candidatos da Medicina, ficando os 79 (20,10%) restantes pulverizados em outros 25 cursos de graduação, todos em unidades de Fortaleza. Sintetizando, tem-se que o curso de Medicina detém pouco mais de 11% das inscrições, mas assume cerca de 80% dos maiores escores.
Ainda na simulação da aplicação de tal ponto de corte, a seleção pública se revelaria desastrosa, pois, antes da segunda etapa, ficariam ociosas 94,60% das vagas em disputa, ou desconsiderando as da Medicina, 96,35% das ofertadas nos demais cursos, sendo os resultados mais favoráveis os constatados em Ciências da Computação (70,00% de não ocupadas) e em Física (78,75% de ociosidade), enquanto dezenas de cursos não preencheriam uma só vaga.
Do resultado geral do recente concurso vestibular da Uece, percebe-se a reprodução do fenômeno identificado em anos precedentes, expondo que o primeiro excedente às vagas disponíveis em Medicina poderia passar, em primeiro lugar, em vários cursos, e o último dentre os seus classificáveis, embora expurgado dos matriculados, teria rendimento para preencher uma vaga em qualquer outra graduação dessa universidade.
Está claro que esse rendimento dos candidatos à Medicina fundamenta-se apenas em pontuação medida em vestibular, que tem seus vieses e, igualmente, boas qualidades, mas não os deixa melhor que os outros, visto que existem outros valores intrínsecos mais imperativos, a exemplo da sensibilidade, do caráter, do humanismo etc.; entretanto, do ponto de vista técnico, concede maior responsabilidade institucional, notadamente ao corpo docente ueceano, para esmerilar essa matéria bruta, de modo a elaborar preciosos médicos, de elevado quilate, e prontos a bem servir às comunidades.
Agora, fevereiro de 2013, decorridos dez anos da implantação do curso médico da Uece, quando cinco turmas já foram graduadas, ratifica-se que o teor da matéria prima recebida, bem selecionada nos vestibulares, cuja qualidade vinha sendo atestada nos exames de aferição oficiais realizados pelo MEC, está sendo comprovada nos resultados dos nossos egressos em diversos processos seletivos de residência médica e nos concursos públicos, aos quais os formandos da Uece vêm sendo submetidos, indicando que eles foram lapidados, com esmero, por docentes e médicos devotados à arte de educar.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular de Saúde Pública da UECE
* Publicado In: Conselho, 98: 7, março-abril de 2013. (Informativo do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará).

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