Tem
sido crescente a concorrência às quarenta vagas anuais ofertadas para o curso
de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece) – número superior a quatro
vezes o da média global do vestibular – conforme pode ser visto nos resultados
dos vestibulares, de primeiro semestre, de 2003 a 2013. Nesses onze
certames, 296.040 foram inscritos para o total de 21.050 vagas, sendo que
29.220 disputaram as 440 vagas de Medicina, configurando uma concorrência média,
por vaga, de 14,06, no geral, e de 66,41, para a Medicina. Na mesma série
histórica, enquanto a concorrência global, por vaga, oscila entre 11,23 a 16,13, a da
Medicina espelha uma tendência ascendente, cujo pico foi alcançado em 2013, com
84,78.
Além
da alta concorrência, a qualidade dos disputantes, principalmente a daqueles
aprovados, expõe, claramente, o bom desempenho dos que desejam cursar Medicina
na Uece, consoante se demonstra a seguir.
Esse
concurso, segue o modelo em duas fases: a primeira, realizada por meio de duas
provas, cobrindo matérias e conteúdo do ensino médio, somando 60 questões de
múltipla escolha e valendo 120 pontos; e a segunda, composta da redação e de
três provas específicas, de acordo com a área da graduação. Para definir os
aptos à participação da segunda fase, recorre-se ao ponto de corte de
aproveitamento dos candidatos colocados em ordem decrescente de escore da prova
geral, até o limite de cinco a seis vezes o número de vagas, respeitando-se as
notas empatadas no limiar de acesso.
Com
base nesse critério, os pontos de corte (cut-off)
mais elevados, dentre todos os cursos, nos onze vestibulares, foram os de
Medicina, variando de 98 a
110 pontos, exigindo do vestibulando, no mínimo, de 49 a 55 questões corretas,
para tomar parte da segunda etapa. À guisa de exemplo, dos 29.685 inscritos no
último vestibular (2013.1), apenas 393 (1,32%) obtiveram o cut-off da Medicina (nota mínima 98), dos quais 314 (79,90%) eram
parte dos 3.391 candidatos da Medicina, ficando os 79 (20,10%) restantes pulverizados
em outros 25 cursos de graduação, todos em unidades de Fortaleza. Sintetizando,
tem-se que o curso de Medicina detém pouco mais de 11% das inscrições, mas assume
cerca de 80% dos maiores escores.
Ainda
na simulação da aplicação de tal ponto de corte, a seleção pública se revelaria
desastrosa, pois, antes da segunda etapa, ficariam ociosas 94,60% das vagas em
disputa, ou desconsiderando as da Medicina, 96,35% das ofertadas nos demais
cursos, sendo os resultados mais favoráveis os constatados em Ciências da Computação
(70,00% de não ocupadas) e em Física (78,75% de ociosidade), enquanto dezenas
de cursos não preencheriam uma só vaga.
Do
resultado geral do recente concurso vestibular da Uece, percebe-se a reprodução
do fenômeno identificado em anos precedentes, expondo que o primeiro excedente
às vagas disponíveis em Medicina poderia passar, em primeiro lugar, em vários
cursos, e o último dentre os seus classificáveis, embora expurgado dos
matriculados, teria rendimento para preencher uma vaga em qualquer outra graduação
dessa universidade.
Está claro que esse rendimento
dos candidatos à Medicina fundamenta-se apenas em pontuação medida em
vestibular, que tem seus vieses e, igualmente, boas qualidades, mas não os deixa
melhor que os outros, visto que existem outros valores intrínsecos mais imperativos,
a exemplo da sensibilidade, do caráter, do humanismo etc.; entretanto, do ponto
de vista técnico, concede maior responsabilidade institucional, notadamente ao
corpo docente ueceano, para esmerilar essa matéria bruta, de modo a elaborar
preciosos médicos, de elevado quilate, e prontos a bem servir às comunidades.
Agora,
fevereiro de 2013, decorridos dez anos da implantação do curso médico da Uece, quando
cinco turmas já foram graduadas, ratifica-se que o teor da matéria prima
recebida, bem selecionada nos vestibulares, cuja qualidade vinha sendo atestada
nos exames de aferição oficiais realizados pelo MEC, está sendo comprovada nos
resultados dos nossos egressos em diversos processos seletivos de residência
médica e nos concursos públicos, aos quais os formandos da Uece vêm sendo
submetidos, indicando que eles foram lapidados, com esmero, por docentes e
médicos devotados à arte de educar.
Marcelo
Gurgel Carlos da Silva
Professor titular de Saúde
Pública da UECE
*
Publicado In: Conselho, 98: 7, março-abril de 2013. (Informativo do Conselho
Regional de Medicina do Estado do Ceará).
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