José Maria Arruda Pontes (*)
“O problema não é
número de médicos e, sim, a falta de políticas públicas para fixar esse
profissional em pequenas cidades”
É lamentável a política do governo para resolver a crise
do SUS ao anunciar a importação de seis mil médicos cubanos, enquanto milhares
de médicos brasileiros estão desempregados. As entidades médicas não são contra
a vinda de médicos formados no Exterior, desde que realize a prova de
revalidação de diplomas desses profissionais formados no exterior (Revalida)
para fazerem um atendimento de qualidade. O médico brasileiro que quiser
trabalhar em outro país deve ser aprovado em rigorosos exames. Por que os
médicos formados em Cuba devem ser dispensados do Revalida, em desrespeito às nossas
normas? Não sou xenofóbico, conheço Cuba e tenho respeito pelo seu povo, mas
não posso ser injusto com os nossos médicos nem irresponsável com a nossa
população.
Não podemos colocar em risco a saúde do nosso povo. Esta
produção industrial de médicos em Cuba vindo para o Brasil em nada vai melhorar
a nossa saúde. O problema não é número de médicos e, sim, a falta de políticas
públicas para fixar esse profissional em pequenas cidades. Brasília e Rio de
Janeiro têm os piores índices de saúde pública no Brasil, mas estão entre as
cidades que têm a maior concentração de médicos. Podem importar 100 mil médicos
e nada vai acrescentar na péssima saúde pública que temos. Essas pequenas
cidades não têm laboratórios, faltam aparelhos, faltam leitos de UTI e de enfermaria
e sem uma estrutura mínima para que se possa exercer com dignidade a sua
profissão.
O médico trabalha de forma precária, tendo de fazer a
politicagem do prefeito, com atrasos de salários e tendo como única opção a
“ambulanciaterapia”. Hoje, o Departamento Jurídico do Sindicado dos Médicos
patrocina 137 ações, individuais e coletivas, na justiça contra prefeituras que
deixaram de pagar salários e direitos trabalhistas aos médicos. É um trabalho
que fere a nossa dignidade.
Temos milhares de profissionais bem qualificados, com
residência médica, vivendo de bicos e que se negam a ir para pequenas cidades
para não se submeteram a um trabalho escravo. Nosso País quer implantar uma
política de saúde pobre para pobres, enquanto a nossa elite corre para o Hospital
Sírio-Libanês. A melhoria do SUS no Brasil passa pela implantação de uma
Carreira de Estado na saúde, por melhores condições de trabalho, por aumento do
orçamento público no SUS e por melhoria salarial. Tentar enganar o povo dizendo
que o problema é a falta de médicos é uma grande irresponsabilidade e uma
maneira de esconder a falta de compromisso e de competência dos nossos
gestores. Os médicos têm compromissos com a vida e a verdade. Nós não somos
mercenários, queremos dignidade.
(*)
Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará
Publicado In: O Povo, Opinião, de 3/06/2013. p.7.
Nenhum comentário:
Postar um comentário