segunda-feira, 3 de junho de 2013

IMPORTAÇÃO DE MÉDICOS, JAMAIS



José Maria Arruda Pontes (*)
O problema não é número de médicos e, sim, a falta de políticas públicas para fixar esse profissional em pequenas cidades
É lamentável a política do governo para resolver a crise do SUS ao anunciar a importação de seis mil médicos cubanos, enquanto milhares de médicos brasileiros estão desempregados. As entidades médicas não são contra a vinda de médicos formados no Exterior, desde que realize a prova de revalidação de diplomas desses profissionais formados no exterior (Revalida) para fazerem um atendimento de qualidade. O médico brasileiro que quiser trabalhar em outro país deve ser aprovado em rigorosos exames. Por que os médicos formados em Cuba devem ser dispensados do Revalida, em desrespeito às nossas normas? Não sou xenofóbico, conheço Cuba e tenho respeito pelo seu povo, mas não posso ser injusto com os nossos médicos nem irresponsável com a nossa população.
Não podemos colocar em risco a saúde do nosso povo. Esta produção industrial de médicos em Cuba vindo para o Brasil em nada vai melhorar a nossa saúde. O problema não é número de médicos e, sim, a falta de políticas públicas para fixar esse profissional em pequenas cidades. Brasília e Rio de Janeiro têm os piores índices de saúde pública no Brasil, mas estão entre as cidades que têm a maior concentração de médicos. Podem importar 100 mil médicos e nada vai acrescentar na péssima saúde pública que temos. Essas pequenas cidades não têm laboratórios, faltam aparelhos, faltam leitos de UTI e de enfermaria e sem uma estrutura mínima para que se possa exercer com dignidade a sua profissão.
O médico trabalha de forma precária, tendo de fazer a politicagem do prefeito, com atrasos de salários e tendo como única opção a “ambulanciaterapia”. Hoje, o Departamento Jurídico do Sindicado dos Médicos patrocina 137 ações, individuais e coletivas, na justiça contra prefeituras que deixaram de pagar salários e direitos trabalhistas aos médicos. É um trabalho que fere a nossa dignidade.
Temos milhares de profissionais bem qualificados, com residência médica, vivendo de bicos e que se negam a ir para pequenas cidades para não se submeteram a um trabalho escravo. Nosso País quer implantar uma política de saúde pobre para pobres, enquanto a nossa elite corre para o Hospital Sírio-Libanês. A melhoria do SUS no Brasil passa pela implantação de uma Carreira de Estado na saúde, por melhores condições de trabalho, por aumento do orçamento público no SUS e por melhoria salarial. Tentar enganar o povo dizendo que o problema é a falta de médicos é uma grande irresponsabilidade e uma maneira de esconder a falta de compromisso e de competência dos nossos gestores. Os médicos têm compromissos com a vida e a verdade. Nós não somos mercenários, queremos dignidade.
(*) Presidente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará
Publicado In: O Povo, Opinião, de 3/06/2013. p.7.

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