segunda-feira, 19 de agosto de 2013

2014: com emoção ou sem emoção?



Por Ricardo Alcântara (*)
A análise do potencial de crescimento de candidatos majoritários no curso de um processo eleitoral se dá com base na avaliação de alguns fatores. A eles, costuma-se creditar maior relevância pela frequência com que se mostram determinantes.
Fundamentam a primazia deles a avaliação de resultados anteriores e suas circunstâncias. São fatores clássicos, por exemplo, estrutura partidária e tempo de propaganda, perfil do candidato e transferência de votos, entre alguns outros mais.
Eles se articulam com pesos variáveis em cada cenário observado. Lidar com a relatividade com que se manifestam exige uma combinação bem calibrada de objetividade e intuição. Há um pouco de ciência e muito de faro nisso tudo.
Importante destacar, tais fatores preponderam, sim, em circunstâncias normais e podem até se tornar pouco relevantes, quando não inteiramente adversos, quando a conjuntura política se vê contaminada por aspectos de excepcionalidade.
Exemplo? Em política, costuma-se dizer que “apoio não se rejeita” – frase pronta com que se reverencia uma rede de sustentação partidária, ainda mais decisiva em campanhas de alcance nacional, onde o território já é, por si mesmo, um desafio.
Mas quando o processo eleitoral se dá com intensa mobilização popular e numa conjuntura de radicalização crítica, ter um cacique em cada esquina pode, então, passar a oferecer mais riscos do que oportunidades. Neste caso, fragilidade é força.
Tenho conversado muito e ninguém acredita no refluxo definitivo das mobilizações de rua. Ao contrário, muitos creem, e a indiferença da nossa elite política só reforça esta impressão: o pior – para eles, e melhor para a nação – ainda está por vir.
O fato é: entre Sociedade e Estado, a relação azedou. Até mesmo uma decisão muito específica, como a obra de um viaduto, drena para a rua uma carga de ressentimentos que persistem e se agravam. Se já não sangra tanto, a ferida continua aberta.
Os indicadores de curto prazo da economia terão seu papel, mas a ameaça latente de novas mobilizações – com tendência de melhor articulação e maior virulência – dão pouca valia ao que projetam para 2014 pesquisas eleitorais realizadas agora.
Pois sem que se restabeleça um melhor ânimo, e já em curso a disputa eleitoral, lentes de toda parte estarão cobrindo a Copa do Mundo no Brasil – e aí, inverto os versos de Caetano e Gil para dizer: “rezem pelo Haiti”... porque o Haiti será aqui!
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
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