Por Ricardo
Alcântara (*)
A análise do potencial de
crescimento de candidatos majoritários no curso de um processo eleitoral se dá
com base na avaliação de alguns fatores. A eles, costuma-se creditar maior
relevância pela frequência com que se mostram determinantes.
Fundamentam a primazia deles a
avaliação de resultados anteriores e suas circunstâncias. São fatores
clássicos, por exemplo, estrutura partidária e tempo de propaganda, perfil do
candidato e transferência de votos, entre alguns outros mais.
Eles se articulam com pesos
variáveis em cada cenário observado. Lidar com a relatividade com que se
manifestam exige uma combinação bem calibrada de objetividade e intuição. Há um
pouco de ciência e muito de faro nisso tudo.
Importante destacar, tais
fatores preponderam, sim, em circunstâncias normais e podem até se tornar pouco
relevantes, quando não inteiramente adversos, quando a conjuntura política se
vê contaminada por aspectos de excepcionalidade.
Exemplo? Em política,
costuma-se dizer que “apoio não se rejeita” – frase pronta com que se
reverencia uma rede de sustentação partidária, ainda mais decisiva em campanhas
de alcance nacional, onde o território já é, por si mesmo, um desafio.
Mas quando o processo eleitoral
se dá com intensa mobilização popular e numa conjuntura de radicalização
crítica, ter um cacique em cada esquina pode, então, passar a oferecer mais
riscos do que oportunidades. Neste caso, fragilidade é força.
Tenho conversado muito e
ninguém acredita no refluxo definitivo das mobilizações de rua. Ao contrário,
muitos creem, e a indiferença da nossa elite política só reforça esta
impressão: o pior – para eles, e melhor para a nação – ainda está por vir.
O fato é: entre Sociedade e
Estado, a relação azedou. Até mesmo uma decisão muito específica, como a obra
de um viaduto, drena para a rua uma carga de ressentimentos que persistem e se
agravam. Se já não sangra tanto, a ferida continua aberta.
Os indicadores de curto prazo
da economia terão seu papel, mas a ameaça latente de novas mobilizações – com
tendência de melhor articulação e maior virulência – dão pouca valia ao que
projetam para 2014 pesquisas eleitorais realizadas agora.
Pois sem que se restabeleça um
melhor ânimo, e já em curso a disputa eleitoral, lentes de toda parte estarão
cobrindo a Copa do Mundo no Brasil – e aí, inverto os versos de Caetano e Gil
para dizer: “rezem pelo Haiti”... porque o Haiti será aqui!
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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