sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Ser Velho no Contemporâneo. Tá Ligado?




Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Hoje os acontecimentos da vida são pensados, discutidos e falados por todos, parafraseando Henrique Cardoso, no livro 'A Soma e o Resto', -Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 2011, 2ª edição, pg. 70.
O ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, disse numa segunda-feira (21.01.13) que idosos como ele - um senhor de 72 anos - deveriam "se apressar e morrer" para desonerar o Estado. Três dias antes dessa declaração ministerial, (18.01.13), suicidou-se Walmor Chagas, 82 — um dos maiores nomes do teatro nacional. Sobre o impacto de tal notícia e acontecimento, escrevo esta croniqueta.
Exige-se muito que o escritor transmita a verdade, o que tento fazer nos altos e baixos dos meus 78 anos de idade. Creio que não valeria a pena ter vivido tanto, se toda a motivação para atingir uma vida mais longa fosse baseada em cretinice ou medo de morrer.
Aprendi que conhecimento humano dá-se por acúmulos, e quase nunca por rupturas. Rupturas aqui entendidas como revoluções, guerras, genocídios ou ideias de lideranças, como as apregoadas pelos ‘salvadores da pátria’ ou escritas nos livros de autoajuda. Tristeza de um povo ou de uma geração que necessitam de tais “salvadores”!
Necessário será alertar que o Progresso, mesmo com essa rapidez e das transformações que acabam por nos  estressar a todos, forçados a sempre lutar por um lugar ao sol. Os avanços, descobertas, lampejos de genialidade não acontecem por acaso, mas sim por amontoo (acúmulo) de erros e acertos na estrada que apelidamos de vida.  Além do mais, muitas dúvidas permanecem, por isto ou por aquilo ou por qualquer coisa. O que sei é que não existe vida por geração espontânea e que nem tudo começou agora. Será que estamos voltando a Aristóteles?
Os profetas de hoje não passam, para mim, de meros especuladores. Por isso sorrio quando afirmam por aí, para ser/não ser politicamente correto, que os jovens de hoje são diferentes do passado e que não podem nem devem espelhar-se na geração precedente e tra-lá-lá.
Pelo amor de Deus ou de Belzebu, não me venham dizer que por culpa do anticoncepcional, da minissaia, da veneração do corpo, da liberdade sexual, das tatuagens ou dos piercing da moçada, alterar profundamente sua psiqué. Ou que o Mercado, as instituições, estabelecimentos, associações, organizações, acabaram-se. Elas simplesmente sofreram transformações. Ou que a Ética e a Moral mudaram. Que qualquer postura que era já não é mais. Ou que a rede (Internet) domina e emaranha tudo e todos. Esquecem que o novo é uma “criança com um novo brinquedo” que lentamente vai ocupando o seu lugar na vida adulta; nem maior nem menor do que aquele a que faz jus.
Ninguém fala em aproveitar com serenidade o fato que já estamos vivendo mais tempo e com melhor qualidade de vida e muito menos que os velhos devem ser aproveitados na sua sabedoria do já vivido. Velho contemporâneo é viver o dia de hoje com todos que nos cercam e no tempo d’agora — ser o mesmo para todos os viventes.
Parem de reclamar da passagem do tempo, companheiros acima dos 60, 70,80... anos. O tempo é o mesmo para todos que estão vivos. O mundo atual é da conversa, do entendimento, da troca de conhecimento.  Temos que começar a dialogar com os jovens e aprender a escutá-los. A junção do passado com o presente é o que ilumina os caminhos.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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