Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Hoje os
acontecimentos da vida são pensados, discutidos e falados por todos,
parafraseando Henrique
Cardoso, no livro 'A Soma e o Resto', -Civilização Brasileira
- Rio de Janeiro, 2011, 2ª edição, pg. 70.
O
ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, disse numa segunda-feira (21.01.13)
que idosos como ele - um senhor de 72 anos - deveriam "se apressar e
morrer" para desonerar o Estado. Três dias antes dessa declaração
ministerial, (18.01.13), suicidou-se Walmor Chagas, 82 — um dos maiores nomes
do teatro nacional. Sobre o impacto de tal notícia e acontecimento, escrevo
esta croniqueta.
Exige-se
muito que o escritor transmita a verdade, o que tento fazer nos altos e baixos
dos meus 78 anos de idade. Creio que não valeria a pena ter vivido tanto, se
toda a motivação para atingir uma vida mais longa fosse baseada em cretinice ou
medo de morrer.
Aprendi
que conhecimento humano dá-se por acúmulos, e quase nunca por rupturas.
Rupturas aqui entendidas como revoluções, guerras, genocídios ou ideias de
lideranças, como as apregoadas pelos ‘salvadores da pátria’ ou escritas nos
livros de autoajuda. Tristeza de um povo ou de uma geração que necessitam de
tais “salvadores”!
Necessário
será alertar que o Progresso, mesmo com essa rapidez e das transformações que
acabam por nos estressar a todos, forçados a sempre lutar por um lugar ao
sol. Os avanços, descobertas, lampejos de genialidade não acontecem por acaso,
mas sim por amontoo (acúmulo) de erros e acertos na estrada que apelidamos de
vida. Além do mais, muitas dúvidas
permanecem, por isto ou por aquilo ou por qualquer coisa. O que sei é que não
existe vida por geração espontânea e que nem tudo começou agora. Será que
estamos voltando a Aristóteles?
Os
profetas de hoje não passam, para mim, de meros especuladores. Por isso sorrio
quando afirmam por aí, para ser/não ser politicamente correto, que os jovens de
hoje são diferentes do passado e que não podem nem devem espelhar-se na geração
precedente e tra-lá-lá.
Pelo amor
de Deus ou de Belzebu, não me venham dizer que por culpa do anticoncepcional,
da minissaia, da veneração do corpo, da liberdade sexual, das tatuagens ou dos piercing da moçada, alterar
profundamente sua psiqué. Ou que o Mercado, as instituições, estabelecimentos, associações,
organizações, acabaram-se. Elas simplesmente sofreram transformações. Ou que a
Ética e a Moral mudaram. Que qualquer postura que era já não é mais. Ou que a
rede (Internet) domina e emaranha tudo e todos. Esquecem que o novo é uma
“criança com um novo brinquedo” que lentamente vai ocupando o seu lugar na vida
adulta; nem maior nem menor do que aquele a que faz jus.
Ninguém
fala em aproveitar com serenidade o fato que já estamos vivendo mais tempo e
com melhor qualidade de vida e muito menos que os velhos devem ser aproveitados
na sua sabedoria do já vivido. Velho contemporâneo é viver o dia de hoje com
todos que nos cercam e no tempo d’agora — ser o mesmo para todos os viventes.
Parem de
reclamar da passagem do tempo, companheiros acima dos 60, 70,80... anos. O
tempo é o mesmo para todos que estão vivos. O mundo atual é da conversa, do
entendimento, da troca de conhecimento.
Temos que começar a dialogar com os jovens e aprender a escutá-los. A
junção do passado com o presente é o que ilumina os caminhos.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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