Por Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Maus tempos aqueles, por volta de 1975: vida
cara, a Universidade Federal do Ceará pagava pouco, família grande, tudo conspirava
para o salário dos funcionários, incluindo o dos docentes, findar na primeira
quinzena do mês.
O “Dozinho” era um boteco famoso pelos seus
tira-gostos, principalmente o de jia. Para o Prof. Capelo, tudo ficava em “casa”,
pois ele era o chefe do ranário do Departamento de Fisiologia e Farmacologia.
Só que o Dozinho não tinha capital de giro
para aguentar tantas despesas “penduradas”, ou “postas no prego”, visto que o
grupo bebedor, composto por professores, monitores e servidores, era bem
comilão. Como o pagamento da universidade demorava muito, haveria de surgir um meio
para honrar os débitos da “caninha” contraídos por alguns funcionários do
Departamento.
Naquele período, alguns equipamentos do
Departamento eram terceirizados e sempre havia bons trocados, principalmente oriundos
da xerocopiadora, sob a custódia da secretária. Desse modo, o Prof. Capelo
assinava “vales” para a secretária, pegando uns cobres, religiosamente cobertos
com o próximo salário, e assim o bar do Dozinho ficava habilitado para outras
rodadas sociais devotadas a Baco, com o clássico tira-gosto de jia, não
procedente do ranário da UFC, evidentemente.
Com mudança da chefia do Departamento, a
terceirização foi desfeita e, como consequência, coibido o escambo, o que causou
a redução da frequência ao nada ecológico boteco.
Fonte:
SILVA, M.G.C. da. Tira-gosto
de jia no Dozinho. In: SOBRAMES – CEARÁ. Semeando cultura. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão,
2016. 320p. p.234.
* Publicado,
originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos
e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p.75-80.
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